|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Felizmente este
país tem rumo
Às pressas, antes de partir para
suas merecidas férias anuais na
Riviera, a diretoria do Fundo Monetário Internacional autorizou a divulgação de um comunicado de 21 linhas,
no dia 7/8, informando que seus técnicos chegaram a um acordo com a delegação brasileira que se encontrava
em Washington. Trata-se de um novo
acordo "stand by", com o prazo de 15
meses, que deverá ser definitivamente
aprovado no começo de setembro.
Devido à delicadeza do momento, a
declaração do FMI é um primor de sofisticação política. Afirma que "as autoridades brasileiras estão convencidas de que o novo acordo serve muito
bem aos interesses do país e que ele será sustentado pelos principais candidatos que lideram a corrida presidencial".
Para reduzir a ansiedade do mercado, o diretor-gerente do FMI, sr. Horst
Köhler, adiantou as condições da ajuda:
1. um empréstimo de US$ 30 bilhões
de financiamento adicional, dos quais
US$ 6 bilhões poderão ser sacados em
2002 e o restante, US$ 24 bilhões, apenas em 2003, depois das auditorias trimestrais que comprovem o atendimento das metas;
2. o nível mínimo de reservas líquidas, atualmente de US$ 15 bilhões, será reduzido a US$ 5 bilhões no momento da aprovação definitiva do novo programa;
3. para "assegurar a sustentabilidade
fiscal no prazo médio", o novo programa estabelece a manutenção de
um superávit primário de 3,75% do
PIB, no mínimo (sic), a ser revisado a
cada trimestre em 2003, e a inclusão
desse mesmo mínimo nos orçamentos dos exercícios de 2004 e de 2005.
Com grande habilidade em sua declaração, o FMI finge não saber que
namoramos outra vez um "default"
após quatro anos de uma política sugerida e classificada como "brilhante"
por ele próprio. Olimpicamente, ignora o fato de que o novo acordo é apenas uma "bóia" que busca manter na
superfície um programa que termina
como um terrível fracasso -medido
pela enorme dependência externa e
pelo crescimento médio do PIB em
1999/2002 da ordem de 1,9% ao ano.
Finge também ignorar que, depois do
grande empréstimo de US$ 41 bilhões
que nos livrou do "default" em 1998 e
reelegeu o presidente Fernando Henrique, nós nos socorremos com o FMI
em setembro de 2001 (na crise argentina) com um "stand by" US$ de 15,7 bilhões. E, agora, voltamos ao seu guichê pela terceira vez na octaetéride de
FHC. Na revisão de junho deste ano, o
FMI já advertira que "as autoridades
deveriam trabalhar mais para reduzir
a larga dependência de empréstimos
externos e internos" e "sugeriu" o aumento do superávit primário para
3,75% do PIB.
Todos temos de apoiar o novo empréstimo pela simples e boa razão de
que não há outra escolha: ou o aceitamos, ou vamos para o "default" em
pleno processo eleitoral. Mas aceitar a
retórica governamental, com a sua
propaganda enganosa de que ele é "a
salvação do mundo", de que "revela o
prestígio do governo", de que "reconhece a excelência da política econômica", é um pouco demais. O grande
barulho serviu para encobrir o desastre.
Dizer ainda que ele "não condiciona
a política econômica futura e não tem
custo" é o que, respeitosamente, chamaríamos de patranha! O Brasil tem,
sim, rumo e endereço: 700, 19th street,
N.W. Washington, D.C. Ainda bem
que ele existe...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Eles são a porta Próximo Texto: Frases
Índice
|