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CLÓVIS ROSSI
O PT e a legalização do abuso
SÃO PAULO - Que me perdoe o ouvidor-geral da Câmara dos Deputados,
Luciano Zica (PT-SP), mas sua proposta de substituir os CNEs (Cargos
de Natureza Especial, contratados
pela Câmara sem concurso) por funcionários concursados equivale ao seguinte: já que a Folha apontou um
abuso, vamos legalizar a coisa, em
vez de corrigi-la.
Por partes: conforme belo trabalho
dos repórteres Eduardo Scolese, Jairo
Marques e Rubens Valente, há 1.960
funcionários, que custam R$ 97 milhões ao público, contratados como
CNEs, para tarefas ditas especiais.
Na prática, parte deles cumpre funções puramente político-eleitorais,
não raro nas bases dos parlamentares, em vez de trabalhar na própria
Câmara.
Esses funcionários somam-se ao
quadro regular da Casa e aos servidores que cada deputado tem direito
a contratar para seu gabinete.
É até possível que um punhado de
CNEs seja, de fato, necessário. Mas
quase 2.000 é um absurdo visível a
olho nu. Se todos os 2.000 comparecerem simultaneamente à Câmara,
não haverá lugar nem para um terço
deles, conforme pode atestar qualquer um que tenha passado não mais
que meia hora por lá.
É melhor contratar os funcionários
regularmente, por meio de concurso
público, do que pelo livre arbítrio dos
parlamentares? É, sem dúvida. Talvez o ouvidor Luciano Zica tenha tido uma inspiração de boa vontade.
Mas esqueceu-se de fazer as perguntas certas: é necessário que a Câmara tenha 2.000 funcionários a
mais do que já tem? Na hora em que
há um brutal aperto orçamentário
em todos lados, até no setor privado,
a Câmara não pode dar uma contribuiçãozinha merreca que seja?
Tudo o que o PT, novo gestor da
Casa, tem a propor é essa legalização
do abuso, fora o silêncio do principal
responsável, o presidente João Paulo
Cunha (PT-SP)?
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