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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Vitória brasileira

RICARDO BERZOINI

Praticamente concluído o primeiro turno da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, é imperativo dizer que o texto aprovado contém inúmeros avanços para o sistema previdenciário brasileiro, particularmente aquele que rege o sistema do funcionalismo público.
Destaco, como vitória maiúscula, que se assegurou, pela primeira vez no país, um debate aberto a respeito da Previdência Social, seus objetivos, suas regras e suas necessárias mudanças.
O resultado da votação demonstra a maturidade do Parlamento. Mesmo as medidas que foram alteradas pelo Congresso criaram ou aperfeiçoaram mecanismos de equilíbrio do sistema e mantiveram a essência da proposta original.
É o caso do subteto estadual para os magistrados, que cria um limite antes inexistente para os salários de desembargadores e juízes. Nos Estados, na prática, os proventos da magistratura já eram muito maiores que o limite de 90,25% da remuneração de ministro do Supremo Tribunal Federal. A aprovação do subteto significa um passo de extrema importância porque implica o corte imediato de salários incompatíveis com a realidade do país, que são recebidos por alguns juízes e funcionários.
Também foi muito positiva a adoção da contribuição definida para os fundos complementares. Apoiamos essa definição, que não constou da proposta original da reforma porque só seria viável por um acordo político dentro do Congresso Nacional. Felizmente, foi o que ocorreu. Com isso, o Estado brasileiro não terá a incerteza de passivos futuros, e os servidores poderão negociar os objetivos de seus fundos com os governos municipais, estaduais ou o federal. No texto votado pela Câmara, uma definição que tranquiliza: os fundos serão de caráter público e não privado.
Destaco, na lúcida votação da reforma, a aprovação da cobrança previdenciária sobre os servidores inativos. Medida de justiça social, porque evita que o desequilíbrio na aposentadoria dos servidores se projete para o futuro.
Registre-se que essas mudanças estão ocorrendo no período curto de tramitação de uma reforma dessa envergadura. É verdade que ainda faltam o segundo turno na Câmara e as votações no Senado -mas o debate realizado publicamente, inclusive com a participação dos senadores, cria as condições para uma tramitação que guarde coerência com os acordos de lideranças partidárias.



A aprovação da reforma demonstrou, até aqui, o aperfeiçoamento progressivo da proposta original do governo

A aprovação da reforma demonstrou, até aqui, o aperfeiçoamento progressivo da proposta original do governo, que sempre esteve aberto ao diálogo e à negociação com sua base parlamentar, com os partidos de oposição e com os segmentos diretamente afetados pela mudanças.
A negociação e a capacidade de articulação são características do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que imprimiu ao seu governo a necessidade de consulta permanente aos partidos políticos -aliados e da oposição-, aos governadores e aos presidentes dos outros Poderes da República. A negociação e o diálogo são um imperativo da democracia.
Ficou claro para todos, desde o início, quando procurei governadores de partidos de oposição ao governo federal, que a intenção era aglutinar apoios muito além da base para garantir a vitória da reforma. Os votos que parlamentares de oposição deram ao texto da reforma atestam a qualidade das mudanças que serão introduzidas e que interessam não apenas ao governo federal, mas também aos Estados e municípios, porque interessam ao Brasil. A ativa participação dos governadores influiu na votação por meio de suas bancadas. Foram, também, protagonistas e parceiros nessa conquista.
São superficiais e precipitados os argumentos dos que criticam o processo de amadurecimento da reforma da Previdência e nele tentam identificar fraquezas no governo. Os fatos mostram outra realidade. A aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados não é uma vitória do Executivo nem do Legislativo nem do Judiciário. Não é da situação ou da oposição. Foi a vitória do diálogo, uma vitória do Brasil.

Ricardo Berzoini, 43, é ministro da Previdência Social. Em 2002, foi reeleito deputado federal pelo PT de São Paulo.


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