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DEMOCRACIA LATINA
A democracia, ou melhor, o
que a população latino-americana pensa sobre a democracia, continua a desafiar as noções clássicas
da ciência política. De acordo com a
mais recente edição da pesquisa "Latinobarómetro", a democracia perdeu prestígio na maioria dos países
da região em relação a 1996, quando
essa sondagem multinacional foi
realizada pela primeira vez.
Dos 17 países avaliados, apenas em
quatro -Venezuela, Honduras, Chile e México- cresceu ou permaneceu estável a porcentagem dos que
afirmam que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. Nos demais, registrou-se queda,
às vezes substancial, como no caso
do Paraguai e da Nicarágua, onde o
apoio despencou 20 pontos.
No Brasil, são 41% os que preferem
a democracia a outras formas de governo, o que representa uma queda
de nove pontos em relação a 96. O
maior apoio é o verificado no Uruguai (78%) e, o menor, o dado pelos
guatemaltecos (35%).
Os números são de certo modo
surpreendentes. A democracia é uma
instituição. Em princípio, ninguém é
partidário da democracia num ano
para deixar de sê-lo no ano seguinte.
O mais provável é que esteja havendo
uma contaminação. O entrevistado
não pensa apenas em termos institucionais, mas confunde o conceito de
democracia com o funcionamento
do Estado. Se a hipótese é correta, fica mais fácil entender por que o
apoio varia tanto ao longo do tempo,
normalmente em correlação com o
desempenho da economia ou das
crises políticas nacionais.
O perigo do desprestígio da democracia, porém, permanece, havendo
ou não confusão conceitual na cabeça dos pesquisados. Tanto é assim
que golpistas, quando tentam suas
aventuras extra-institucionais, procuram explorar o descontentamento
da população com o "statu quo" e
transferi-lo para a democracia. Trata-se, evidentemente, de uma falácia,
mas isso não torna seus efeitos menos devastadores.
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