São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

Greve contra a segurança

A SUSPENSÃO da greve da Polícia Civil, que havia sido deflagrada ontem no Estado de São Paulo, é notícia positiva que no entanto não elimina a ameaça de nova paralisação.
Entre as principais reivindicações dos policiais civis no Estado está um aumento que varia de 58% a 200%. Um delegado em início de carreira recebe R$ 3.708, incluindo gratificações. O salário é baixo, tomando-se por base a remuneração em outras unidades da Federação. São Paulo paga a seus delegados em início de carreira bem menos, por exemplo, que Paraná (R$ 9.599) e Bahia (R$ 5.304).
É fato, contudo, que qualquer reajuste significaria grande dispêndio para os cofres estaduais, pois contemplaria 35 mil policiais civis da ativa e mais 9.000 aposentados. O governo alega que, se todos os pedidos fossem atendidos, a folha de pagamentos da Segurança Pública passaria de R$ 7 bilhões para R$ 15 bilhões anuais. O Palácio dos Bandeirantes afirma que aceita discutir a reestruturação salarial, mas com índices menores que os pretendidos. O caminho é negociar uma melhoria ao longo do tempo.
Mas, se o pleito salarial parte de premissa justa, outras demandas dos policiais são absurdas. É o caso da eleição direta para delegado-geral da Polícia Civil. Além de ofensiva à Constituição, essa mudança entregaria o comando da polícia a um jogo sindical e favoreceria a emancipação de um aparato armado de difícil controle dentro do Estado.
Outro ponto que merece repúdio da sociedade é o recurso à greve na categoria policial. A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, por exemplo, ameaça retomar o plano de cruzar os braços em caso de insucesso nas negociações.
Como ocorre no caso dos militares, não deveria ser admitida greve entre policiais, mesmo no caso dos civis. Trata-se de uma categoria muito particular e essencial de servidores, que detém mandato da sociedade para carregar armas e atua na linha de frente da segurança pública.
Reconhecer as particularidades e a importância dos policiais não significa apenas, obviamente, limitar seu acesso ao direito de greve. É preciso que esse status seja confirmado com melhores condições de trabalho.


Texto Anterior: Editoriais: Crise na regulação
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Civilização
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.