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Autismo agravado
CLÓVIS ROSSI
Bogotá - Quer dizer, então, que nem
o empresariado paulista aprova o governo Fernando Henrique Cardoso?
Será que vão pedir de volta o dinheiro
que muitos deles deram, gostosamente, para as duas campanhas eleitorais
de FHC?
Se há descontentamento entre um
grupo social que, habitualmente, é o
que menos sofre em momentos de dificuldade (se é que sofre), é fácil imaginar o grau de irritação dos assalariados em geral e daqueles que nem salário fixo têm.
Enquanto isso, em Brasília, o presidente festeja a suposta retomada do
crescimento econômico.
É notável. Salvo erro de memória, foi
Luís Nassif quem primeiro chamou de
"autismo" o comportamento do presidente. Diagnóstico preciso. Pior: o mal
parece agravar-se dia a dia, como se o
país que FHC vê de seu palácio fosse
outro, e não o Brasil dessa profunda
irritação, desencanto, desesperança.
É claro que ninguém pode ser contra
o crescimento econômico, se ele de fato
estiver voltando de uma maneira sustentável, o que é, no mínimo, matéria
para debate. Mas não custa lembrar
que o Brasil chegou a ser recordista
mundial de crescimento, até o final
dos anos 70, e nem por isso deixou de
ser o que o próprio FHC chamou de
"país injusto, mas não subdesenvolvido".
Logo, a menos que haja uma mudança de rota nas políticas públicas,
mesmo que volte o crescimento, não se
alterará a injustiça, fonte primeira do
desencanto, da frustração e da irritação de uma fatia ponderável de brasileiros.
Se até os empresários dão a baixíssima nota 2,9 para o desempenho social
do governo, imagine-se então qual
não seria a nota dos que de fato dependem de políticas sociais.
A única -e débil- esperança é que
a nota dos empresários rompa o autismo de FHC, já que a irritação dos que
não têm poder nem voz não chegou
até ele.
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