São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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Autismo agravado

CLÓVIS ROSSI

Bogotá - Quer dizer, então, que nem o empresariado paulista aprova o governo Fernando Henrique Cardoso? Será que vão pedir de volta o dinheiro que muitos deles deram, gostosamente, para as duas campanhas eleitorais de FHC?
Se há descontentamento entre um grupo social que, habitualmente, é o que menos sofre em momentos de dificuldade (se é que sofre), é fácil imaginar o grau de irritação dos assalariados em geral e daqueles que nem salário fixo têm.
Enquanto isso, em Brasília, o presidente festeja a suposta retomada do crescimento econômico.
É notável. Salvo erro de memória, foi Luís Nassif quem primeiro chamou de "autismo" o comportamento do presidente. Diagnóstico preciso. Pior: o mal parece agravar-se dia a dia, como se o país que FHC vê de seu palácio fosse outro, e não o Brasil dessa profunda irritação, desencanto, desesperança.
É claro que ninguém pode ser contra o crescimento econômico, se ele de fato estiver voltando de uma maneira sustentável, o que é, no mínimo, matéria para debate. Mas não custa lembrar que o Brasil chegou a ser recordista mundial de crescimento, até o final dos anos 70, e nem por isso deixou de ser o que o próprio FHC chamou de "país injusto, mas não subdesenvolvido".
Logo, a menos que haja uma mudança de rota nas políticas públicas, mesmo que volte o crescimento, não se alterará a injustiça, fonte primeira do desencanto, da frustração e da irritação de uma fatia ponderável de brasileiros.
Se até os empresários dão a baixíssima nota 2,9 para o desempenho social do governo, imagine-se então qual não seria a nota dos que de fato dependem de políticas sociais.
A única -e débil- esperança é que a nota dos empresários rompa o autismo de FHC, já que a irritação dos que não têm poder nem voz não chegou até ele.


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