São Paulo, Sábado, 14 de Agosto de 1999
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PACTO DE DESESPERO

A articulação que se desenha na arena política (a esta altura, já um charco) paulistana, entre o prefeito e sua base de vereadores, bem poderia receber o nome de pacto de silêncio.
Esse tipo de acordo ficou famoso por ser praticado por organizações mafiosas. Por meio do silêncio, procurava-se garantir a sobrevivência do grupo, mesmo que algum de seus elementos viesse a cair nas mãos da polícia ou de grupos rivais.
Compactuam vergonhosamente o prefeito Celso Pitta e sua vereança. É que os indícios de que o sistema de governo como um todo está viciado recrudescem. Além dos esquemas de corrupção montados nas administrações regionais, o conjunto das suspeitas abrange a coleta de lixo, o serviço funerário, o PAS, empresas municipais. É evidente que a prefeitura deve ser um dos alvos principais das investigações, pois é a instituição que articula todos esses setores.
Mas eis que o chefe do Executivo municipal, ao que consta, desce à ralé da politicagem para acordar com sua base um bloqueio a investigações que poderiam chegar até ele. Alia-se a interesses de vereadores que também não desejam ser investigados. Forma-se o pacto para defender o grupo. Escolhem-se aqueles poucos que deverão ser sacrificados para tanto.
Mas algo pode dar errado na estratégia. Talvez não se possam queimar sem consequência vereadores a fim de preservar a maioria e o prefeito. A vereadora Maria Helena Fontes (PL), acusada de tramar com um estelionatário chantagem contra um colega, já disse que não cai sozinha. Pode ser que outros argumentos a convençam do contrário, mas ao menos promete dar custoso trabalho.
Entretanto, mais que um pacto de silêncio, a operação que envolve prefeito e vereança governista parece um pacto de desespero. Há uma sensação de que, se der errado, o próximo passo será o salve-se-quem-puder.




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