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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A idéia e a caneta

RIO DE JANEIRO - Começam a aparecer alguns sinais de que a mudança de governo, no início deste ano, não foi uma simples substituição de funcionários públicos, a começar pelo presidente da República. Bem ou mal, estávamos habituados a isso, saía uma equipe entrava outra, mudavam-se critérios e móveis, poupava-se ou gastava-se mais, a mesa presidencial ficava mais perto ou mais longe da janela.
A chegada do PT ao poder, apesar das alianças feitas para garantir a elegibilidade de Lula durante a campanha e a governabilidade do seu mandato, pouco a pouco começa a ser acusada de ser alguma coisa a mais do que uma simples mudança de discurso e de prática. Sendo o único partido nacional com uma idéia na cabeça e agora com uma caneta na mão, percebe-se que o seu núcleo aceita qualquer coisa que aumente e alimente suas bases.
Nesse particular, funciona como um governo que trata o trivial variado da maneira possível, mas procura se expandir como partido não apenas majoritário mas decisivo na conduta da política social e econômica.
Ora, dirão, todo partido que chega ao poder procede da mesma forma. Seria verdade se houvesse realmente partidos entre nós. Mas, com exceção das pequenas legendas implodidas do velho partidão, o que temos são grupos de sobas, pajés de boa ou de má extração que simplesmente ocupam o poder pelo poder -para beneficiar amigos e sacanear adversários.
O PT segue essa regra geral no cotidiano da política e da administração. Mas tem a vocação de mudar as coisas. Descartada a fórmula da revolução, o que lhe resta é armar com paciência um gigantesco aparelho que sirva de apoio à sua militância, a ser acionada quando e como as circunstâncias determinarem.
A tendência natural do partido seria à esquerda. Mas todos os regimes de direita tiveram como base o rótulo do trabalho e do socialismo.



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