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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Aos jovens estudantes brasileiros
A Unesco possui uma escala para
classificar os países segundo o seu
nível de educação. A escala utiliza testes que visam identificar a capacidade
dos alunos no domínio dos rudimentos básicos da leitura e da aritmética.
Pois bem. Em testes realizados em
2002, a Unesco verificou que 50% dos
alunos brasileiros estão no nível mais
baixo da escala, revelando séria incapacidade para ler textos simples e para
fazer contas elementares. Entre os 41
países estudados, o Brasil ficou em 37º
lugar na prova de leitura e em último
lugar na prova de aritmética.
Isso é lamentável. Dentre os estudantes que conseguem ler um texto
até o fim, a capacidade de retenção das
idéias e a de interpretação do que leram é precária. A maioria tropeça no
meio da leitura ou apenas reconhece a
grafia das palavras, mas não o seu significado, e muito menos a sua articulação com outras palavras.
Nas provas de aritmética, os estudantes têm dificuldades enormes para
entender o próprio enunciado dos
problemas -uma mistura de deficiências de linguagem e de raciocínio.
E a maioria não consegue resolver
questões simples de dividir e de multiplicar que são exigidas pelo dia-a-dia
de cada um.
Estamos muito longe dos países que
ocupam os primeiros lugares nessa escala -Finlândia, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Irlanda. Mas estamos longe também de alguns países
do nosso nível que conquistaram lugares de destaque, como são os casos
de Hong Kong e da Coréia do Sul, que
ocupam o 6º e o 7º lugares respectivamente. O Brasil, infelizmente, está no
final da escala, acompanhado por países como a Macedônia, a Indonésia, a
Albânia e o Peru.
Esse quadro tem fortes implicações
para o futuro de qualquer país. O Brasil deu uma grande arrancada nos últimos 20 anos, é verdade. Vencemos a
batalha da quantidade e conseguimos
matricular quase todas as crianças na
escola.
Mas isso é muito pouco nos dias
atuais. Na vida moderna, o que conta é
a qualidade. Isso vale para o trabalho,
para a cidadania, para o convívio familiar etc. Vejam o caso do trabalho.
Segundo artigo recentemente publicado pela Folha, verificou-se que 180
mil jovens disputaram 872 vagas em
empresas do Brasil -uma desproporção impressionante. Mais impressionante foi saber que a esmagadora
maioria desses jovens não tinha nenhuma experiência anterior de trabalho nem o mínimo de conhecimentos
exigidos pelas empresas em linguagem, em informática e em inglês (Gilberto Dimenstein, "180 mil jovens
não conseguiram ocupar 872 empregos", Folha de S.Paulo, 20/7/03).
Ou seja, em um país onde falta tanto
emprego, verifica-se que há uma grave escassez de pessoas qualificadas
para preencher as poucas vagas existentes. É claro que educação não gera
emprego, mas, pelo exemplo dado, fica claro que sem educação ninguém
se emprega no mundo moderno.
A batalha da qualidade está apenas
começando no Brasil e precisa ser
muito acelerada. Além de matricularmos todas as crianças na escola, é preciso que elas concluam os estudos
com muita dedicação, tendo aprendido o que a vida exige, pois são elas que
representam o futuro de nosso país de
hoje num mundo chamado globalizado, ou seja, de muito maior competitividade.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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