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São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000 |
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HORA DE REVISÃO A precipitação dos eventos no Oriente Médio e seu impacto sobre os preços do petróleo, a elevação dos juros na União Européia e a queda na lucratividade das empresas norte-americanas configuram novamente um cenário preocupante na economia mundial. No Brasil, vários economistas já sugerem uma revisão de expectativas e mesmo de diretrizes de política econômica. O processo em curso tem uma vantagem sobre os episódios de meados de 1997. Naquela época, ocorriam verdadeiras "explosões" ou "terremotos", surpreendendo até mesmo os especialistas habituados a acompanhar os mercados emergentes. Agora, no entanto, não se pode falar em surpresa. Trata-se de uma crise anunciada, que se desdobra sem violência, ainda que semana após semana, mês após mês, percam sustentação as projeções de crescimento econômico em todo o mundo. Uma questão mais imediata, para o Brasil, é a do repasse dos aumentos nos preços de petróleo ao mercado interno. Os economistas do governo preferem esperar até saber em que patamar haverá uma estabilização dos preços, depois da alta recente. É uma atitude justificável, embora traga à lembrança outras crises em que o governo brasileiro, por cautela ou otimismo, apenas adiou o ajuste. Para os mais críticos, adiar o aumento não passaria de populismo. A verdade é que, admitida uma nova alta de combustíveis no país, seus efeitos inflacionários e sobre o nível de atividade exigiriam mudanças na política econômica, hoje centrada no modelo de metas inflacionárias. Seria preciso rever as metas ou, na pior das hipóteses, voltar a elevar as taxas de juros para conter o crescimento econômico e sufocar a inflação. O ajuste, a rigor, teria de ser mais profundo, envolvendo medidas mais ousadas de substituição de importações e redução da dependência de capitais externos. Agora, mais do que nunca, não há como imaginar que o Brasil é uma ilha de tranquilidade num oceano de incertezas. Próximo Texto: Editorial: ESCALADA DO ÓDIO Índice |
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