São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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ESCALADA DO ÓDIO

A tensão no Oriente Médio atinge o seu ponto mais alto desde a Guerra do Golfo, dez anos atrás. As negociações de paz entre israelenses e palestinos atravessam o pior abalo desde que tiveram início, em 1993. As duas semanas de violentos confrontos em Israel e nos territórios ocupados já deixam um saldo de cerca de cem mortos, a maioria palestinos. Apesar de tudo, não existe alternativa que não a paz.
Cedo ou tarde, as duas partes terão de voltar à mesa de negociações para encontrar e estabelecer um "modus vivendi". A tarefa é ainda mais urgente para os palestinos, para os quais a manutenção do "status quo" significa a perpetuação da miséria. Sem uma solução política para o conflito, os investimentos para recuperar os territórios palestinos não virão.
Esse raciocínio vale para o longo prazo. Num período menos dilatado, a situação é extremamente grave. Há dúvidas sobre a capacidade dos dois governos de controlar suas populações, em um conflito que já transcende os aparatos de segurança de ambas as partes.
É particularmente lamentável constatar que, poucos meses atrás, a paz definitiva esteve próxima. O premiê israelense, Ehud Barak, acenou com concessões aos palestinos, cujo representante, Iasser Arafat, as recusou. A nova frustração com a última cúpula e a paz que nunca chega alimentaram os ressentimentos dos palestinos, o que em parte explica essa recente explosão de violência.
Com o fim da Guerra Fria, o apoio dos países árabes aos palestinos provavelmente não passará do aspecto retórico. Em termos estritamente militares, a superioridade israelense é notória. Há o risco, contudo, de a crise espalhar-se pelo Oriente Médio e, pela pressão das populações árabes, ameaçar as lideranças moderadas, como a do presidente egípcio.
Toda a lógica do processo exige a celebração de uma paz duradoura. O problema é que as guerras têm uma lógica cuja primeira vítima é, em geral, a própria lógica.


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