São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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CLÓVIS ROSSI
A terra nada santa

SÃO PAULO - Não sou judeu, mas tenho uma fascinação e um carinho extraordinários por essa tribo. Também me fascinam Israel e Palestina, certamente a mais inacreditável mescla de misticismo e fúria, de história e irracionalidade, de paz e guerra, que o planeta jamais concebeu ou conheceu.
Sempre que viajo por aquelas terras, volto com a sensação de que não entendi nada e que seriam necessárias mil e uma viagens para começar a compreender os mistérios que elas abrigam.
Feita essa ressalva, desta vez não há como ignorar o fato de que Israel está indo longe demais nas suas expedições punitivas aos palestinos. É sempre bom lembrar que quem começou a confusão toda foi um judeu, Ariel Sharon, com sua intempestiva e provocadora visita à Esplanada das Mesquitas, ponto sagrado para muçulmanos e judeus.
É igualmente importante lembrar que a bandeira de Israel jamais tremulou na esplanada, nem mesmo depois da vitória na guerra de 1967 que deu ao Estado judeu o controle sobre toda Jerusalém, além de várias outras áreas da Palestina.
Claro que o linchamento de soldados israelenses é uma selvageria inaceitável em um mundo que se pretende civilizado. Mas adotar a Lei de Talião e ainda por cima dizer que está exercendo moderação nos ataques contra alvos palestinos é igualmente selvagem.
Há alguns anos, um colono judeu, o médico Baruch, cometeu ato que poderia ser equiparado ao linchamento dos soldados judeus: entrou atirando na mesquita de Hebron e matou um punhado de palestinos. Nem por isso os palestinos tiveram o direito de retaliar, com ou sem moderação.
Parece difícil discordar do chanceler interino de Israel, Shlomo Ben-Ami, quando ele diz que voltar à mesa de negociações é uma inevitabilidade, qualquer que seja o desdobramento dos presentes conflitos.
Se é assim, quebrar a espinha do adversário está longe de ser o melhor caminho para negociar lealmente.


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