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CLÓVIS ROSSI
A terra nada santa
SÃO PAULO - Não sou judeu, mas tenho uma fascinação e um carinho
extraordinários por essa tribo. Também me fascinam Israel e Palestina,
certamente a mais inacreditável mescla de misticismo e fúria, de história e
irracionalidade, de paz e guerra, que
o planeta jamais concebeu ou conheceu.
Sempre que viajo por aquelas terras, volto com a sensação de que não
entendi nada e que seriam necessárias mil e uma viagens para começar
a compreender os mistérios que elas
abrigam.
Feita essa ressalva, desta vez não há
como ignorar o fato de que Israel está
indo longe demais nas suas expedições punitivas aos palestinos. É sempre bom lembrar que quem começou
a confusão toda foi um judeu, Ariel
Sharon, com sua intempestiva e provocadora visita à Esplanada das
Mesquitas, ponto sagrado para muçulmanos e judeus.
É igualmente importante lembrar
que a bandeira de Israel jamais tremulou na esplanada, nem mesmo
depois da vitória na guerra de 1967
que deu ao Estado judeu o controle
sobre toda Jerusalém, além de várias
outras áreas da Palestina.
Claro que o linchamento de soldados israelenses é uma selvageria inaceitável em um mundo que se pretende civilizado. Mas adotar a Lei de Talião e ainda por cima dizer que está
exercendo moderação nos ataques
contra alvos palestinos é igualmente
selvagem.
Há alguns anos, um colono judeu, o
médico Baruch, cometeu ato que poderia ser equiparado ao linchamento
dos soldados judeus: entrou atirando
na mesquita de Hebron e matou um
punhado de palestinos. Nem por isso
os palestinos tiveram o direito de retaliar, com ou sem moderação.
Parece difícil discordar do chanceler interino de Israel, Shlomo Ben-Ami, quando ele diz que voltar à mesa de negociações é uma inevitabilidade, qualquer que seja o desdobramento dos presentes conflitos.
Se é assim, quebrar a espinha do
adversário está longe de ser o melhor
caminho para negociar lealmente.
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