São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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FERNANDO RODRIGUES
O PT e o MDB

BRASÍLIA - Comparação muito ouvida depois do primeiro turno das eleições municipais: o PT tem hoje a mesma perspectiva que teve o MDB depois das eleições em 74 .
O MDB era a oposição consentida ao governo militar. Em 74, venceu as eleições em 79 das 90 cidades com mais de 100 mil habitantes.
Quatro anos depois, em 78, ganhou novamente. Só que a vitória foi tolhida previamente pelo "pacote de abril" de 77 -quando os militares manietaram a oposição criando, entre outros monstrengos, cargos de senadores biônicos.
Não adiantou. Em 82, novas vitórias da oposição nos maiores Estados nas primeiras eleições diretas para governador desde a década de 60. Em São Paulo deu Franco Montoro. A campanha das diretas tomou corpo em 84. O resto é história.
Mesmo assim, o MDB (hoje PMDB) nunca chegou totalmente ao poder federal. Jamais teve um presidente da República genuinamente seu.
Basta lembrar que José Sarney presidia o PDS (sigla sucedânea da Arena) antes de ser indicado para vice de Tancredo Neves. A conjuntura empurrou-o para o PMDB. Está lá até hoje, mas todos de sua família continuam no PFL -outro braço arenista no Brasil pós-militares.
Ao PT pode estar reservado o mesmo destino do (P)MDB? Impossível responder. O PT teria de crescer desordenadamente, dividir-se entre suas facções estaduais e nunca conseguir eleger um quadro para a Presidência da República.
Tendo a acreditar que o PT tem uma estrutura orgânica e um sistema de filtros que o (P)MDB nunca teve.
Mas há um alerta para os petistas. Lula apareceu ontem numa entrevista para o "Correio Braziliense" dizendo que os grupos radicais não sobreviverão dentro da sigla.
É um caminho. Mas cada vez mais o PT parecerá uma oposição consentida ao liberalismo. Agregará quadros e idéias antes rechaçadas. Pode chegar diferente ao poder. Resta saber quem será o José Sarney do PT.


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