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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Prece à padroeira do Brasil
Quando menino, tive bons colegas de curso. Alguns tornaram-se
mais amigos. Lembro-me de quando
um deles me convidou para ir à sua
casa. Passei o dia com a família de meu
colega. Ele ficou feliz quando me apresentou a sua mãe. Era uma prova de
apreço que nunca esqueci. Nossa amizade cresceu ainda mais.
Essa simples comparação faz-nos
compreender o gesto generoso de Jesus Cristo quando na cruz nos deu por
mãe sua própria mãe (Jo 19,27). Partilhou conosco o seu afeto filial e quis,
assim, nos agraciar para sempre com
o amor e a proteção daquela que lhe
dera a vida.
Estamos habituados a contemplar
Cristo anunciando a boa nova da salvação à multidão, curando enfermos
ou caminhando pelas estradas da Palestina. Nem sempre, no entanto, penetramos nos sentimentos de seu coração para percebermos a confiança
no Pai Celeste, sua doação incondicional ao reino e o seu amor tão grande
por sua mãe e por nós.
A missão materna de Maria é ajudar-nos a imitar seu filho Jesus. Ela foi
a sua primeira e perfeita discípula,
acompanhando-o nas alegrias e nos
sofrimentos. Tornou-se para todos
exemplo de fé na pessoa e ensinamento de Jesus, assumindo a seu lado e por
amor o mistério da salvação pela cruz.
É à sua solicitude materna que Cristo
entrega todos os seus discípulos.
A celebração litúrgica da padroeira
do Brasil, a 12 de outubro, convidou-nos a voltar nosso olhar para a mãe de
Deus e nossa e a rogar que nos ajude a
imitá-la no seguimento de Jesus Cristo
e na promoção da vida, dom de Deus.
A ela confiemos, em primeiro lugar,
as crianças e peçamos que nos faça assumir a defesa dessas vidas desde a
sua concepção. No "Dia da Criança",
qual atitude pode ser mais coerente do
que cada um de nós se comprometer
com os milhões de pequenos pobres e
desamparados? Não é aceitável que
em nosso país continuem morrendo
tantas crianças por falta de alimento e
saúde e até pela covardia da violência
do hediondo sequestro para fins torpes e comércio de órgãos.
A Europa nestas semanas acompanha o noticiário das torturas sexuais e
de assassinatos a que foram submetidas crianças em vários países num comércio pornográfico e sádico de fotos
e vídeos altamente lucrativos. Pessoas
que não hesitam em cometer tais atrocidades revelam a degradação moral a
que chegamos. A solução está numa
profunda conversão interior de cada
um, mas também dos responsáveis
pelas produções televisivas.
Na mesma coerência de quem
aprende com a mãe de Jesus a seguir o
Divino Mestre, temos, depois deste
período eleitoral, que nos empenhar
para o relacionamento fraterno e o
amadurecimento do regime democrático.
As campanhas partidárias e o procedimento de candidatos decepcionam
o país com ataques que colocam o interesse pessoal acima do bem comum.
Em muitos municípios, acirram-se os
ânimos, o que deixa prever futuras retaliações. Quem sofre é o povo sempre
mais pobre, que tinha direito de esperar propostas construtivas para eliminar a exclusão social e assegurar condições dignas para todos. Não seria
possível facilitar a colaboração dos governos estaduais e municipais para
atender com rapidez as famílias sem
terra? A dificuldade do diálogo em benefício das soluções viáveis revela falta
de decisão política e de real interesse
pela promoção dos empobrecidos.
Em outubro, mês do rosário, as famílias e comunidades renovam sua
devoção a Maria. Unamos nossa prece
à padroeira do Brasil para que sua
proteção materna nos alcance a coerência em viver o Evangelho de Jesus
Cristo.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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