São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Prece à padroeira do Brasil

Quando menino, tive bons colegas de curso. Alguns tornaram-se mais amigos. Lembro-me de quando um deles me convidou para ir à sua casa. Passei o dia com a família de meu colega. Ele ficou feliz quando me apresentou a sua mãe. Era uma prova de apreço que nunca esqueci. Nossa amizade cresceu ainda mais.
Essa simples comparação faz-nos compreender o gesto generoso de Jesus Cristo quando na cruz nos deu por mãe sua própria mãe (Jo 19,27). Partilhou conosco o seu afeto filial e quis, assim, nos agraciar para sempre com o amor e a proteção daquela que lhe dera a vida.
Estamos habituados a contemplar Cristo anunciando a boa nova da salvação à multidão, curando enfermos ou caminhando pelas estradas da Palestina. Nem sempre, no entanto, penetramos nos sentimentos de seu coração para percebermos a confiança no Pai Celeste, sua doação incondicional ao reino e o seu amor tão grande por sua mãe e por nós.
A missão materna de Maria é ajudar-nos a imitar seu filho Jesus. Ela foi a sua primeira e perfeita discípula, acompanhando-o nas alegrias e nos sofrimentos. Tornou-se para todos exemplo de fé na pessoa e ensinamento de Jesus, assumindo a seu lado e por amor o mistério da salvação pela cruz. É à sua solicitude materna que Cristo entrega todos os seus discípulos.
A celebração litúrgica da padroeira do Brasil, a 12 de outubro, convidou-nos a voltar nosso olhar para a mãe de Deus e nossa e a rogar que nos ajude a imitá-la no seguimento de Jesus Cristo e na promoção da vida, dom de Deus.
A ela confiemos, em primeiro lugar, as crianças e peçamos que nos faça assumir a defesa dessas vidas desde a sua concepção. No "Dia da Criança", qual atitude pode ser mais coerente do que cada um de nós se comprometer com os milhões de pequenos pobres e desamparados? Não é aceitável que em nosso país continuem morrendo tantas crianças por falta de alimento e saúde e até pela covardia da violência do hediondo sequestro para fins torpes e comércio de órgãos.
A Europa nestas semanas acompanha o noticiário das torturas sexuais e de assassinatos a que foram submetidas crianças em vários países num comércio pornográfico e sádico de fotos e vídeos altamente lucrativos. Pessoas que não hesitam em cometer tais atrocidades revelam a degradação moral a que chegamos. A solução está numa profunda conversão interior de cada um, mas também dos responsáveis pelas produções televisivas.
Na mesma coerência de quem aprende com a mãe de Jesus a seguir o Divino Mestre, temos, depois deste período eleitoral, que nos empenhar para o relacionamento fraterno e o amadurecimento do regime democrático.
As campanhas partidárias e o procedimento de candidatos decepcionam o país com ataques que colocam o interesse pessoal acima do bem comum. Em muitos municípios, acirram-se os ânimos, o que deixa prever futuras retaliações. Quem sofre é o povo sempre mais pobre, que tinha direito de esperar propostas construtivas para eliminar a exclusão social e assegurar condições dignas para todos. Não seria possível facilitar a colaboração dos governos estaduais e municipais para atender com rapidez as famílias sem terra? A dificuldade do diálogo em benefício das soluções viáveis revela falta de decisão política e de real interesse pela promoção dos empobrecidos.
Em outubro, mês do rosário, as famílias e comunidades renovam sua devoção a Maria. Unamos nossa prece à padroeira do Brasil para que sua proteção materna nos alcance a coerência em viver o Evangelho de Jesus Cristo.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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