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O Brasil está pronto para ser privatizado?
SIM
Já passou da hora
CARLOS EDUARDO DE FREITAS
Em dezembro de 1994, quando sofreu intervenção do Banco Central,
o Banespa estava quebrado, com buraco superior a R$ 30 bilhões. Tal desequilíbrio era proveniente de empréstimos
direta ou indiretamente feitos ao governo do Estado de São Paulo. Empréstimos impagáveis, desrespeitando os
princípios mais elementares da boa técnica bancária.
Não foi um caso isolado. Os bancos
oficiais estaduais foram fábricas de esqueletos fiscais, que afloraram, na sua
maior parte, na segunda metade dos
anos 90, em função da estabilidade monetária que acabou com os ganhos extravagantes do "float" inflacionário. Os
créditos eram concedidos por critérios
políticos; os benefícios trabalhistas, salariais e previdenciários, incompatíveis
com o mercado e com a capacidade de
geração genuína de receitas daqueles
bancos. Os controles internos deficientes encontrados na maioria deles não
eram, assim, mera coincidência.
Além disso, a instabilidade administrativa, decorrente da alternância dos
partidos no poder, e os cerceamentos
operacionais acabariam também inviabilizando a concorrência daqueles bancos com instituições privadas, que não
estão sujeitas, por exemplo, à Lei de Licitações nem a regras rígidas para contratação de pessoal.
Nos tempos da inflação ainda se poderia compreender que os governos estaduais quisessem internalizar os ganhos extraordinários das instituições financeiras com o "float", embora nem
isso fosse suficiente para justificar os esqueletos fiscais acumulados. Quanto ao
atendimento bancário regional, a prática tem demonstrado que pode ser obtido a custos muito mais baixos, e com o
benefício da transparência fiscal, utilizando-se a rede bancária privada.
A privatização dos bancos estaduais
traz eficiência à alocação dos recursos
escassos da sociedade, elimina a opacidade fiscal e a consequente geração de
esqueletos. Contribui para o desenvolvimento econômico e para melhoria da
distribuição da renda, como resultado
da redução dos custos administrativos e
da substituição dos critérios de compadrio pelos de eficiência, no deferimento
de créditos.
Os ganhos da privatização são enormes, porém diluídos por toda a sociedade. As perdas estão concentradas em
pequenos grupos, justamente os que se
beneficiam com o Banespa estatal: os
que pretendem realizar gastos fiscais ao
arrepio do Orçamento público; os que
poderiam desfrutar as vantagens do
apadrinhamento político na concessão
dos créditos; as próprias corporações,
com seus privilégios insustentáveis; e os
sindicatos de bancários. Só para ter uma
idéia, o Banespa tem 312 funcionários
cedidos a associações sindicais e pagos
pelo próprio banco.
Já passou da hora de privatizar. Os
mais de R$ 30 bilhões de rombo do Banespa foram refinanciados pelo governo federal e estão sendo pagos pelo Estado em 30 anos. As irregularidades administrativas estão sendo devidamente
apuradas e as comunicações cabíveis ao
Ministério Público, com indícios de crime, foram feitas.
Esperamos um leilão disputado em 20
de novembro. Entretanto, por maior
que seja o ágio em relação ao preço mínimo de R$ 5,84 bilhões (R$ 1,95 bilhão
para os 33,33% do capital detido pela
União), a parcela recuperada será apenas uma fração do rombo.
Carlos Eduardo de Freitas, 56, economista, é
diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais
do Banco Central do Brasil.
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