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CLÓVIS ROSSI
O meu presidente ideal
SÃO PAULO - Levou 60 anos, mas encontrei enfim meu presidente da República ideal. Chama-se Roh Moo-hyun, tem 57 anos, governa a Coréia
do Sul faz apenas oito meses, mas
acaba de declarar-se despreparado
para o emprego.
"Cheguei a uma situação em que
não posso conduzir o governo. Não
tenho confiança em fazer meu trabalho nessa situação", disse, não em
privado, não em segredo, nem mesmo para um interlocutor de confiança que, depois, teria revelado a confidência ao público. Nada disso. Moo-hyun foi à TV para declarar-se despreparado, conforme o relato da
"Agenda Global", diário eletrônico
da revista britânica "The Economist".
O presidente sul-coreano não vai
renunciar. Vai fazer a coisa certa:
convocar um plebiscito para saber se
os eleitores querem ou não que ele
continue no cargo.
Formidável: o cidadão é absolutamente sincero com o público, que, soberano como deve ser em toda democracia, decidirá se deve premiar a
sinceridade e manter Moo-hyun no
cargo ou punir o despreparo assumido, afastando-o. Seria difícil imaginar uma situação mais transparente
e mais democrática na política.
No caso da Coréia, diferentemente
do recente episódio na Califórnia,
magistralmente analisado nesta Folha por Marcos Guterman dias atrás,
não é a lei que determina a turbulência intrínseca a uma votação sobre a
permanência ou não de um governante. É a decisão dele, com base em
uma informação nova: Moo-hyun
descobriu que governar parece acima
dos talentos que acreditava ter.
Suspeito de que todos os governantes tenham menos talento do que o
exigido para administrar países, especialmente os complexos.
O próprio Luiz Inácio Lula da Silva
já disse que não há universidade para
formar presidentes. Logo, o aprendizado se faz no tranco, aqui como em
qualquer parte. Mas ninguém, aqui
ou em qualquer parte (salvo agora,
na Coréia do Sul), tem a coragem de
admitir que seu talento pode ser menor que a Presidência.
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