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ELIANE CANTANHÊDE
Samuel
BRASÍLIA - Quem é Samuel Pinheiro Guimarães? Advogado, mestre em
economia por Boston, embaixador
de carreira e, aos 64 anos, secretário-geral do Itamaraty -segundo homem na hierarquia, logo abaixo do
chanceler Celso Amorim.
Por que escrever sobre Samuel? Porque ele está no centro da discussão da
política externa do governo Lula e do
futuro comercial do Brasil. Ou seja,
da Alca, a Área de Livre Comércio
das Américas, que promete abrir os
mercados dos países do continente, a
começar dos EUA, e ameaça congelar
a desproporção descomunal, por
exemplo, entre Norte e Sul.
E por que Samuel está no olho do
furacão? "Vítima do governo FHC",
ao ser posto na geladeira justamente
por condenar a Alca, foi adotado pelo
PT, resgatado por Lula e tornou-se o
alvo predileto dos adversários da política externa. Um símbolo.
Quando se quer atacar o Itamaraty, ataca-se Samuel; para criticar a
posição brasileira na Alca como "boicote", critica-se Samuel; para contrapor o "pragmatismo" da área econômica à "ideologia" da política externa, aponta-se para Samuel. Ele é usado como "prova" por quem enxerga
um viés antiamericano no governo.
Amorim tem sido pressionado para
despachar Samuel para alguma embaixada bem bacana, apesar de ele
ter feito toda a carreira na chancelaria em Brasília. Ocorre que chanceler
e secretário-geral não são apenas
chefe e chefiado. São amigos desde
que, em 1979, Amorim chamou Samuel para ser o seu segundo na Embrafilme. Hoje, a filha de um é casada
com o filho do outro.
Em resumo, Amorim repete numa
só pessoa o dilema de um governo inteiro: balança entre pragmatismo e
ideologia, coração e razão, profissionalismo e velhos amigos. Difícil dizer
se Samuel ajuda mais ficando (e reafirmando uma linha de "soberania")
ou saindo (para esvaziar o gás dos
adversários). Convidado a sair para
Buenos Aires, ele preferiu ficar e ficou. Qualquer decisão, portanto, parece depender principalmente de
uma pessoa: o próprio Samuel.
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