São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Dois pra lá, dois pra cá

BRASÍLIA - Paulo Maluf foi indiciado pela Polícia Federal por formação de quadrilha, sonegação, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e peculato (embolsar recursos públicos). Aliás, ele e seu filho Flávio. Ufa! É de tirar o fôlego. E também de tirar o ânimo de qualquer candidato em obter o apoio público de Maluf.
Já era no mínimo constrangedor ter o voto ou qualquer tipo de manifestação de simpatia de Maluf com tantas contas, tantos milhões, tantas suspeitas, tantas ilhas, tantos paraísos fiscais. Agora, salta de constrangedor para falta de vergonha.
Restam para José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) a operação simultânea, e portanto contorcionista, de rejeição e atração: rejeição a Maluf e atração dos votos malufistas. Nisso, Serra leva vantagem. Pelo chamado "processo natural". Se já é mais difícil um malufista apoiar um candidato do PT, é mais ainda se esse candidato está atrás nas pesquisas.
Geraldo Alckmin, com aquele jeitão de Mona Lisa que Deus e sucessivas campanhas lhe deram, compara: o Datafolha apurou que em torno de 70% dos votos malufistas do primeiro turno vão cair no colo do candidato tucano, mesmo percentual que ele próprio, Alckmin, teve no segundo turno contra José Genoino. Conclusão do governador: esse é um dado sólido da política paulista. Mais ou menos assim: basta Serra sentar embaixo da árvore e colher os frutos da velha polarização PT-Maluf.
O contorcionismo de Serra e de Marta para tratar dessa questão, digamos, delicada, precisa ser muito bem calibrado, especialmente para o debate de hoje na TV Bandeirantes. Uma pergunta obrigatória é sobre Maluf e malufistas. Com certeza, assessores políticos e marqueteiros estão quebrando a cabeça para soprar respostas que não agridam Maluf a ponto de afastar seus eleitores nem agradem Maluf a ponto de soarem cínicas ou oportunistas para os próprios malufistas e para todos os demais.
Taí um exercício interessante. Compre a pipoca e não perca! Viver é aprender... que tudo é possível.


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