São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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VAGUINALDO MARINHEIRO

O espectro de HH

HELOÍSA Helena sai desta eleição com três derrotas já computadas: 1) obteve 6,6 milhões de votos (6,85% do total de válidos), o que é pouco para o que foi chamado de "fenômeno HH" e para quem chegou a sonhar com um segundo turno; 2) seu PSOL não resistiu à cláusula de barreira e deve perder o pouco de visibilidade que tem; 3) a senadora é agora acusada por seus pares de autoritarismo por não ter discutido a opção do partido pelo voto nulo no segundo turno. Apesar de tudo isso, seu espectro continua a rondar a campanha presidencial.
Lula, por exemplo, estaria com uma vestimenta mais adequada se usasse jeans e blusa branca quando brada que Alckmin irá privatizar o que resta das estatais do país.
Esse discurso é típico da senadora, não do atual presidente, que repete a política econômica dos tucanos e hoje defende as estatais não por razões ideológicas, mas porque servem para acomodar petistas sem emprego e para dar uma mãozinha nas campanhas eleitorais, seja de forma positiva, como a auto-suficiência de combustível alcançada pela Petrobras, seja de forma desastrosa, como a participação de Expedito Veloso, do BB, e de Jorge Lorenzetti, do Besc, na falcatrua do dossiê contra tucanos.
Alckmin, por sua vez, adotou o estilo HH no debate realizado pela TV Bandeirantes. Em meio aos números que sempre gostou de citar, incluiu adjetivos e mais adjetivos em seu discurso contra o petista.
Do mesmo lado tucano, Yoshiaki Nakano, um dos principais conselheiros econômicos de Alckmin e nome cotado para um eventual ministério, perdeu a chance de ficar calado num momento crucial da campanha e falou em intervenção no câmbio e em controle na entrada de capital estrangeiro no país.
Foi discurso de tucano, mas parecia ecoar algum pronunciamento da candidata do PSOL. Com essas mudanças de atitudes, Lula e Alckmin buscam atrair todos os tipos de votos, mas principalmente os da chamada esquerda, que continua indecisa por se sentir traída pelo PT no poder e por ainda guardar ojeriza pelos anos do PSDB no governo.
É justamente aí que está parte do eleitorado de HH. A outra parte, composta de votos de protesto, não deve ir para nenhum candidato.
Por enquanto, Lula e Alckmin estão empatados na disputa pelo espólio de Heloísa Helena. Segundo o último Datafolha, 39% dos que votaram na senadora no primeiro turno ficam com o tucano agora. Já 36% optam pelo petista.
Mas Lula precisa conquistar menos votos para ganhar e, se for o vencedor no dia 29, será mais uma derrota da senadora. Ela atacou tudo e todos no primeiro turno, mas usou mais tempo, munição e os "melhores" adjetivos contra "sua majestade barbuda".


VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação da Folha.

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