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OSCAR PILAGALLO
O capital
de Marta
E stá sobrando capital para
Marta Suplicy. O que falta para a
prefeita eleita de São Paulo é dinheiro,
já que boa parte do Orçamento estará
comprometida com o pagamento da
dívida deixada pela gestão de Pitta e
multiplicada pelos juros de FHC.
O capital do PT é a expectativa depositada em Marta. Quase seis em cada
dez habitantes de São Paulo acham
que seu governo será bom ou ótimo,
segundo pesquisa do Datafolha.
Talvez não seja um número surpreendente, dado que a proporção é
próxima do resultado do segundo turno. Ainda assim, é bom lembrar que a
candidata foi beneficiada pelo voto
antimalufista. Quem ao escolher Marta votou contra Maluf não teria que
ter, necessariamente, expectativa positiva em relação a seu governo.
Seria ingenuidade atribuir excessiva
importância a esse capital inicial. Afinal, trata-se de um voto de confiança
que não costuma ser negado a governantes recém-eleitos.
Nem se está sugerindo subverter
prioridades. Antes de mais nada, a
prefeitura precisa de dinheiro, sem o
que os programas sociais correm o risco de não sair do papel. Não é por outro motivo, aliás, que Marta já está em
Washington e escolheu um banqueiro
como supersecretário para cuidar das
finanças municipais.
Pensar grande, no entanto, não exclui pensar pequeno. Seria um desperdício, administrativo e político, se o
potencial representado pela esperança
da maioria não fosse devidamente canalizado para o bem da cidade.
Em campanha e depois de eleita,
reunida com representantes da sociedade civil, Marta lançou um "conto
com vocês". É necessário, mas insuficiente. Para começar, a nova administração não pode subestimar o fato de
que há toda uma geração que, por falta de oportunidade nos últimos oito
anos, desconhece os caminhos para
exercer a cidadania no nível local.
São pessoas que podem ser sensíveis
a iniciativas populares, como o mutirão, palavra que tem andado sumida
do léxico político. É só um exemplo.
As parcerias, outro exemplo, não
precisariam ficar limitadas ao acordo
com empresas. Os condomínios, que
tanto gastam em reforma de fachadas
e segurança, poderiam cuidar coletivamente do espaço público a um custo reduzido e enorme ganho para os
moradores, que o utilizam mais do
que eventuais transeuntes.
Coisas pequenas. Como adotar um
jardim, zelar por uma escadaria deteriorada (como as muitas que existem
no Pacaembu), limpar um terreno público. E nem precisaria haver incentivo fiscal. A simples melhora do ambiente seria mais do que recompensador aos que contribuíssem com trabalho voluntário ou dinheiro.
Esse é o capital que está à disposição
de Marta. Se não for habilmente utilizado, acabará faltando -tanto quanto o dinheiro.
Para 2002: fica lançada a campanha
contra a expressão "voto útil". Falemos,
como os ingleses, "voto tático". Porque
nenhum voto é inútil, certo?
Oscar Pilagallo é repórter especial da Folha e
autor do livro "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).
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