São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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CARLOS HEITOR CONY
Sobras

RIO DE JANEIRO - Num fim-de-semana em São Luís, ciceroneado pelo romancista José Sarney, ele me contou alguns casos da política maranhense, que, em linhas gerais, não é muito diferente daquela que vigora em outros Estados.
Parece que vale tudo numa campanha eleitoral, inclusive alguns crimes de morte. Mas há um limite sacrossanto: não se toca em caso de mulher, amante, concubina ou derivadas. Tendo ou não culpa no cartório, todos respeitam esse departamento. Mandamento um pouco machista, sem dúvida, mas necessário para a normalidade democrática. O sujeito pode ser acusado de roubo, de assassinato, de genocídio. De mulherengo, não.
Bons tempos, apesar de tudo. Hoje, o limite que deve ser mantido pela classe política para defender a todos, indistintamente, pois todos devem ter alguma culpa a pagar, é o dinheiro arrecadado para as campanhas eleitorais.
Alguns mais, outros menos, todos os candidatos se beneficiam de um dinheiro macetado. As contas apresentadas ao Tribunal Eleitoral são peças de ficção elaboradas por técnicos no assunto. Todos fingem acreditar naquilo em que ninguém acredita.
Na raiz da crise que afastou Collor da Presidência, estavam as sobras da campanha eleitoral, dinheiro que continuou entrando nos cofres de PC Farias mesmo após a eleição.
No caso de FHC, a situação é mais delicada, pois o candidato beneficiado era o presidente da República, que pretendia se reeleger. Ou seja, com um poder de persuasão nunca alcançado por qualquer outro candidato em qualquer outro tipo de eleição.
Natural que a turma do pires, que os homens da mala preta queiram preservar o presidente. Mas, de uma forma ou outra, ele teve de pagar o preço dos apoios recebidos. Não em forma de vil pecúnia, mas de favorecimentos diversos. Já a turma da arrecadação, essa geralmente costuma se pagar no ato.


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