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CARLOS HEITOR CONY
Sobras
RIO DE JANEIRO - Num fim-de-semana em São Luís, ciceroneado pelo
romancista José Sarney, ele me contou alguns casos da política maranhense, que, em linhas gerais, não é
muito diferente daquela que vigora
em outros Estados.
Parece que vale tudo numa campanha eleitoral, inclusive alguns crimes
de morte. Mas há um limite sacrossanto: não se toca em caso de mulher,
amante, concubina ou derivadas.
Tendo ou não culpa no cartório, todos respeitam esse departamento.
Mandamento um pouco machista,
sem dúvida, mas necessário para a
normalidade democrática. O sujeito
pode ser acusado de roubo, de assassinato, de genocídio. De mulherengo,
não.
Bons tempos, apesar de tudo. Hoje,
o limite que deve ser mantido pela
classe política para defender a todos,
indistintamente, pois todos devem
ter alguma culpa a pagar, é o dinheiro arrecadado para as campanhas
eleitorais.
Alguns mais, outros menos, todos
os candidatos se beneficiam de um
dinheiro macetado. As contas apresentadas ao Tribunal Eleitoral são
peças de ficção elaboradas por técnicos no assunto. Todos fingem acreditar naquilo em que ninguém acredita.
Na raiz da crise que afastou Collor
da Presidência, estavam as sobras da
campanha eleitoral, dinheiro que
continuou entrando nos cofres de PC
Farias mesmo após a eleição.
No caso de FHC, a situação é mais
delicada, pois o candidato beneficiado era o presidente da República, que
pretendia se reeleger. Ou seja, com
um poder de persuasão nunca alcançado por qualquer outro candidato
em qualquer outro tipo de eleição.
Natural que a turma do pires, que
os homens da mala preta queiram
preservar o presidente. Mas, de uma
forma ou outra, ele teve de pagar o
preço dos apoios recebidos. Não em
forma de vil pecúnia, mas de favorecimentos diversos. Já a turma da arrecadação, essa geralmente costuma
se pagar no ato.
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