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Os cortes no Orçamento do próximo ano comprometem as áreas sociais?
NÃO
Ajuste com critérios sociais
AÉCIO NEVES
O Brasil tem visto o enorme esforço
que o governo vem fazendo para enfrentar a grave crise financeira internacional, que ameaça as economias de todo o mundo. Não custa observar que
nosso país em nada contribuiu para a
situação de instabilidade do mercado
financeiro internacional, mas não se
deve deixar de ressaltar que podemos
ser mais uma vítima dessa crise se medidas firmes e corajosas, como as que o
governo remeteu ao Congresso, não forem adotadas.
O sistema financeiro internacional
inverteu o ônus da prova em relação ao
nosso país, o que significa dizer que seremos culpados por inconsistência
econômica até que provemos o contrário. Perante essa injusta e inevitável circunstância, o ajuste fiscal que faremos
é a prova de nossa força e da responsabilidade política do governo.
As economias sem consistência,
quando se ajustam, experimentam o
peso do desastre econômico (Rússia,
Tailândia e, de certa forma, o México
em 1994). No Brasil (assim como na Inglaterra, em 1992), as ações em questão
comprovarão a robustez de nossa economia, do que resultarão -como no
pequeno exemplo que já tivemos nesta
semana- a queda da taxa de juros e a
aceleração do crescimento.
Esse quadro enseja que o ajuste se dê
sem perda do controle político, permitindo a discrição do governo sobre os
rumos a adotar. As despesas da União
estão concentradas na área social, no
montante equivalente a 76%. Sendo essa área a mais sensível nos momentos
de desaceleração do ritmo de atividade,
a responsabilidade do governo fez com
que o ajuste sacrificasse ao mínimo as
despesas públicas. Foram cortados R$
2,7 bilhões em relação a 1998.
Por questão de justiça social, o governo definiu que os sacrifícios serão socialmente hierarquizados. Para tanto,
sustentou o movimento fiscal sobre a
arrecadação e as reformas estruturais:
os que podem mais pagam mais. Não se
trata, portanto, de ajuste regressivo.
Sob esse princípio, a eficácia da gestão pública na área social impõe priorizar os gastos com atividades em relação
àqueles com investimentos. Por exemplo, não faz sentido abandonar a prevenção da dengue em favor da construção de hospitais. Isso corresponderia a
incentivar as doenças para poder acolher os doentes.
Por essa razão, as despesas em outros
custeios e capital na área do Ministério
da Saúde aumentarão, em 1999, em
cerca de R$ 1 bilhão sobre o ano anterior. Da mesma forma, as despesas em
atividades no Ministério da Educação
serão acrescidas em R$ 205 milhões.
Não podemos esquecer que vivemos
-isso é fato, não é retórica- uma crise econômica que ameaça o mundo como um todo e nos atingirá de forma
dramática se não fizermos os ajustes
necessários. Naturalmente, o momento
exige sacrifícios e cortes de gastos e investimentos. Mas o governo está fazendo sua parte e agindo para cobrar mais
de quem tem mais para dar.
De nossa parte, eu, como líder do
PSDB na Câmara, posso assegurar que
o partido está firme e coeso na decisão
de aprovar as medidas do ajuste fiscal
da forma mais rápida possível. Entendemos que elas, mais do que necessárias, são vitais para a preservação de
nossa economia. Isso nos possibilitará,
superado este momento extremamente
difícil, voltar a crescer economicamente e retomar o caminho do desenvolvimento social -o que, tenho certeza,
todos desejamos.
Os investimentos sociais (em saúde,
educação, reforma fundiária, na Previdência, no Ministério do Trabalho e no
Ministério do Planejamento e Orçamento) serão reduzidos de R$ 2,078 bilhões para R$ 1,813 bilhão. Isso corresponde a uma redução de 12,7%, perante um corte nas despesas totais de custeio e de capital (com ênfase nas
não-sociais) de 19,3%.
Cortar investimentos não é do gosto
de nenhum governante. Mas todo esse
esforço tem um objetivo: preservar a
estabilidade e, a partir dela, garantir a
recuperação da economia e a geração
de empregos. Esse, sim, é o maior investimento social que o governo pode
fazer.
Aécio Neves, 38, economista, é deputado federal pelo
PSDB-MG e líder do partido na Câmara dos Deputados.
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