São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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FUNDAMENTO POLÍTICO

As personalidades escolhidas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro escalão da política econômica compartilham de um perfil semelhante. Antonio Palocci Filho (Fazenda), Henrique Meirelles (Banco Central) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) se distanciam do perfil tecnoburocrático que prevaleceu, durante os anos FHC, entre os ocupantes dessas pastas. Essa diferença na escolha dos perfis convive com o objetivo, marcante sob Fernando Henrique Cardoso e por ora preservado por Lula, de compor uma equipe que conquiste a confiança do chamado mercado financeiro.
Talvez a passagem do tempo venha a demonstrar que, se houve um período atípico no modo de definir o perfil dos titulares da equipe econômica no Brasil, ele foi o dos oito anos de FHC. Tendo obtido uma vitória sobre a inflação, o presidente Fernando Henrique Cardoso conquistou um duradouro aval da sociedade para formar uma equipe econômica pouco compromissada com a tessitura política, por exemplo, com o empresariado e o sindicalismo.
O perfil técnico atribuído a nomes como Pedro Malan -que bateu todos os recordes de permanência na Fazenda- e Armínio Fraga parecia ajustado à principal tarefa atribuída à política econômica: evitar a volta do descontrole inflacionário. Na base desse arranjo de poder estava a idéia de que os técnicos de FHC transmitiam credibilidade aos agentes financeiros locais e globais.
Sem algo parecido ao Real para fornecer cacife ao futuro presidente, com a popularidade dos ajustes ultraliberais -bem como o fluxo internacional de capitais- em baixa, com o desemprego crescente e o aumento das dificuldades nos negócios de empresas brasileiras, é compreensível a preferência por nomes menos técnicos e mais "políticos" à frente das pastas econômicas. Se esse novo perfil representará mudança concreta no rumo da economia, no entanto, só o tempo dirá.


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