São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

É o faxineiro, gente

SÃO PAULO - Para que não digam que é coisa da Folha e de seu suposto mau humor, vou a "O Globo" e sua manchete de ontem: "Lula põe banqueiro do PSDB no BC e mercado ainda desconfia".
Pois é. O tal de mercado, essa entidade sem rosto que se tornou feitora do universo nos tempos modernos, acha pouco um banqueiro tucano no governo do PT.
Exige, de acordo com reportagens em vários jornais, um "operador", que Henrique Meirelles, o futuro presidente do BC, não seria. Parece que Meirelles pensa, coisa que o mercado abomina. Quer "operadores", esse pessoal que não pensa, limita-se a apertar botões, claro que os botões que o mercado aprecia.
Fenômeno idêntico está se dando na Fazenda. Antonio Palocci, o novo ministro designado, até já brincou naquele jantar com FHC no Alvorada que estava sendo tido como à direita de Pedro Malan.
Já anunciou o diabo, até aumento do superávit primário, para acalmar o mercado. Adiantou? Porcaria nenhuma. O mercado acha que ele não é formulador de política macroeconômica e, portanto, exige alguém que o seja (e, logicamente, que formule as políticas que o mercado aplaude. Arruínam a nação, é verdade, mas desde quando esse dano colateral preocupa os mercados?).
Como o PT parece tomado de um medo pânico de contrariar a turma do mercado, admitamos que venha a nomear um "operador" da máxima confiança deles para ajudar Meirelles no Banco Central.
Prepare-se, desde já, para a nova manchete de "O Globo": "Lula põe operador da firma de George Soros no BC e mercado ainda desconfia".
Enquanto não for nomeado um novo faxineiro para o BC, que seja de confiança dos mercados, esse espetáculo ridículo, mas trágico, vai continuar. Pobre país.


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