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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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FORÇA PARA COMPETIR

A concentração industrial procura aproveitar as sinergias de inovação tecnológica, marketing, diferenciação de produtos, patentes, marcas, qualificação e experiência da mão-de-obra, fortalecendo a capacidade competitiva das empresas. O impulso concentrador leva à internacionalização das grandes corporações, com o intuito de racionalizar recursos e encontrar novos horizontes. De acordo com o "World Investment Report", 49% das vendas realizadas pelas cem maiores empresas transnacionais do planeta foram efetuadas fora do país de origem. As operações de fusão e aquisição têm sido a forma preferencial de entrada em novos mercados.
O processo de consolidação da siderurgia mundial parece irreversível. Diferentes analistas estimam que nos próximos dez anos os cinco maiores grupos siderúrgicos deverão deter 50% do mercado, ante os 14% atuais. Haveria espaço para um conglomerado europeu, um americano, um japonês, um coreano e, provavelmente, um grupo chinês ou russo.
Para enfrentar esses desafios, a siderurgia brasileira possivelmente passará por um processo de reestruturação, mediante a criação de um grupo nacional forte, com capacidade de competição internacional.
Como se sabe, está sendo aventada a fusão das duas maiores empresas siderúrgicas do país: a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o sistema Usiminas-Cosipa (Cia. Siderúrgica Paulista). Essa união resultaria em um corporação com capacidade de produção de 15 milhões de toneladas ao ano, ocupando a décima posição mundial. A liderança global é exercida pela empresa européia Arcelor, com produção de 44 milhões de toneladas de aço bruto por ano.
No mercado doméstico, a CSN e o grupo Usiminas disputam as vendas de aços planos para montadoras, autopeças, linha branca e construção civil. Ambas exportam cerca de 30% da produção. O principal mercado externo é a China.
Essa tentativa de fusão vai ao encontro da convicção de muitos observadores de que o país necessita de empresas tecnológica, financeira e empresarialmente robustas para enfrentar os novos desafios. Embora haja muito a caminhar nesse sentido, há exemplos encorajadores de companhias que vêm desenvolvendo a capacidade de competir com grupos estrangeiros, como, entre outras, a AmBev, a Gerdau, a São Paulo Alpargatas, além da Petrobras e da Vale do Rio Doce.
O fortalecimento da estrutura produtiva local é importante para alavancar o investimento externo, sendo, nesse sentido, relevante a atuação do BNDES, cuja direção, muito criticada, tem defendido políticas nesse sentido. Certamente, o apoio governamental deve seguir princípios de transparência e exigir contrapartidas, como de resto está determinado no recente documento do governo que serve de base para discutir a política industrial.
Por fim, são justificadas as preocupações com a cartelização de preços domésticos que pode decorrer da concentração. Trata-se, no entanto, de um aspecto a ser enfrentado com rigor, mas também com realismo.


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