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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

China, Estados Unidos e nós

Os Estados Unidos continuam sendo a grande locomotiva do mundo, especialmente agora, quando a economia volta a crescer acima de 5% ao ano! A outra locomotiva é a China, com um crescimento estimado de 8,5% em 2003, repetindo a façanha das últimas duas décadas.
O gigante asiático estava escalado para liderar o planeta ao longo do século. Mas nem tudo são flores. No momento em que escrevo este artigo, os chineses passam frio. O aquecimento foi racionado, as lojas estão às escuras, as fábricas trabalham menos e as escolas funcionam à meia-luz. Qual o motivo? Falta de energia!
A situação é crítica. Só neste ano, a demanda por energia aumentou 15,6% em relação a 2002. É um crescimento espantoso. As usinas hidroelétricas, que produzem apenas 5% da eletricidade, foram atingidas por forte seca. Ademais, a China tem apenas 7% da água do mundo, e o lençol freático desce a cada dia. O carvão, que responde por 75% da eletricidade, está com o uso controlado devido à limitação das usinas e à multiplicação de acidentes fatais nas minas.
O quadro é complexo e os desafios são enormes. A China tem 1,3 bilhão de habitantes, que só agora começam a se transformar em consumidores. A zona rural terá de ser eletrificada. As residências precisam ser melhoradas. O consumo de eletrodomésticos e de automóveis tem de aumentar. O transporte motorizado, que hoje é de dez veículos por mil habitantes, deverá saltar para 55 por mil em 2015. Como conseguir isso sem energéticos?
A China terá de investir a fabulosa soma de US$ 2,3 trilhões para atender a demanda interna de energia até 2030. É muito dinheiro em pouco tempo!
A escassez de energia endureceu o jogo. Há risco de o país desacelerar o crescimento, a menos que o governo decida buscar energia em outras partes, começando sempre pela via da compra.
Os Estados Unidos tampouco têm energia para sobreviver nos padrões atuais: é do petróleo importado que sai a maior parte da sua eletricidade. As reservas domésticas são diminutas. A média de produção dos 600 mil poços dos Estados Unidos é de míseros 11 barris por dia, enquanto na Arábia Saudita é de 9.000! Daí a ânsia de os americanos se aproximarem dos produtores de petróleo.
O que tudo isso significa para o Brasil? Uma imensa oportunidade de exportação. A China, em 2010, terá uma população de 1,4 bilhão de pessoas e, para alimentá-las, terá de importar cerca de 300 milhões de toneladas de alimentos por ano -lembrando que para produzir uma tonelada de comida são necessárias cerca de mil toneladas de água.
Mas, para o Brasil explorar bem essas oportunidades, teremos de cuidar das nossas fontes de energia. Já experimentamos o "sabor" do apagão, e ninguém gostou -nem o povo nem, muito menos, o governo. Por isso, nesse campo, toda a atenção é pouca.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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