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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Cachorro atropelado

RIO DE JANEIRO - Aprendi com os meus maiores que não se deve chutar cachorro atropelado. Não considero o PT um cachorro atropelado, pelo contrário, é um cachorrão saudável que, entre outras coisas, está no poder.
A reabertura do caso que envolveu uma das prefeituras governadas pelo partido está servindo de pretexto para a malhação global de todos os petistas, vivos ou mortos, o que, além de um exagero, é uma imbecilidade.
É bem verdade que o PT fez por merecer essa onda quando, ao serem assassinados dois de seus prefeitos, tentou vender à opinião pública a idéia de que o partido estava sendo vítima de uma conspiração macabra que ceifaria todos os seus membros num momento em que as pesquisas começavam a indicar a preferência do eleitorado por Lula.
Li e ouvi comentários furibundos de petistas e simpatizantes, que temiam uma caça às bruxas federal, embora os dois casos, o de Campinas e o de Santo André, tenham sido municipais. Estranhei -e continuo estranhando- a aura de sacralidade atribuída ao PT, trigo dourado que insiste em crescer no meio do joio daninho da política nacional.
Como em outras instituições, como a igreja, as Forças Armadas, a magistratura, o empresariado, a imprensa e os árbitros de futebol, há sacanas espalhados por todos os setores da atividade humana. Considerar o PT um rebanho de vestais, castas Suzanas incorruptíveis, é também um exagero e uma imbecilidade.
Devemos criticar o partido pela pretensão de ser um lírio imaculado no lodo da vida pública nacional. Fatos isolados não podem servir de argumento para a condenação genérica do PT. Desde o início do caso de Santo André havia indícios de corrupção na prefeitura local. A indignação dos petistas, que se fizeram de vítimas imoladas por uma conspiração, foi e continua sendo uma tolice.


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