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Aos costumes!
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Quase 20 anos depois de
Fernando Gabeira chocar o país com
sua sunga lilás de tricô e o discurso a
favor da maconha, a campanha política deste ano deve finalmente abordar temas de comportamento.
A ditadura caiu, a tortura política
acabou. A direita não é mais tão reacionária nem a esquerda tão ortodoxa. Às vésperas do ano 2000, o eleitor
precisa de elementos para discutir,
com um mínimo de humanidade e cabeça fria, o aborto legal, a união civil
gay, a descriminação da maconha e
do adultério. Por que não?
Alguns poderiam alegar que "o povo
não está preparado", ou que o fundamental ainda é debater questões econômicas e sociais. Afinal, grassa a violência, grassa o desemprego, grassa a
desgraça. Nada disso, porém, impede
que as campanhas progressistas ataquem nas duas frentes.
A mulher da periferia já faz aborto
há tempos e está mais interessada no
arroz e no feijão do almoço. Mas ela
também precisa ter consciência dos
riscos da televisão na educação dos filhos e saber que há um projeto de lei
trocando os "açougueiros" da esquina
pelo SUS, quando a gravidez é resultado de estupro ou ameaça sua vida.
Temas assim já estrearam na atual
campanha nacional, com uma ousada
entrevista de Ciro Gomes. Devem deslanchar nas estaduais com Marta Suplicy em São Paulo. Se o PT deixar...
Pela tradição, político esperto corre
desses assuntos feito diabo da cruz.
Com razão. O próprio FHC, na fase
pré-esperteza, por pouco não se aposenta prematuramente da vida pública ao admitir que havia provado maconha e titubear diante da dúvida
mais cruel: Deus existe? Mas a sociedade evolui.
Se FHC aprendeu a lição, o irreverente Gabeira não ficou atrás. Hoje
deputado e cinquentão, ele ensina que
um pouco de pragmatismo não faz
mal a ninguém, muito menos a candidato: "O ideal é provocar, mas sem assustar e sem perder eleitor".
Qual a mágica? Simples. Não alardear apenas convicções íntimas, como
fez Ciro, mas defender projetos de lei
que combinem com elas. Exemplo: em
vez de defender o aborto, por que não
justificar o projeto do aborto legal?
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