São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O desafio da cidade informal
ALFREDO SIRKIS
Isso implica também estimular, de forma sutil e sem as clássicas manipulações político-eleitoreiras, a rearticulação de lideranças comunitárias não-vinculadas ao tráfico de drogas. Nas atuais circunstâncias, elas dificilmente podem se contrapor frontalmente ao banditismo, mas conseguem trabalhar de forma independente quando sua ação é reconhecida e respeitada, na comunidade, pela competência em criar e/ou gerir projetos culturais, educativos, ambientais, desportivos e outros que atendam aos moradores sem as manipulações, os favorecimentos e as discriminações características do controle exercido tanto pelo tráfico quanto pelos políticos clientelistas, por vezes até mesmo em conluio. Outro aspecto vital é estender o pleno direito de propriedade à maior parte possível da cidade informal via regularização e titulação: retirar do limbo socioeconômico e legal todas essas casas construídas em terras cujos direitos de propriedade não estão adequadamente registrados e não podem ser incluídos na economia formal nem negociados fora dos estreitos círculos locais. Esse é um problema cuja solução pode ser facilitada pelo poder local, embora passe inevitavelmente pelo Judiciário e pelo sistema cartorial. E é absolutamente vital o acesso da população de baixa renda ao crédito imobiliário, fechado durante décadas, que agora começa a se abrir, aos poucos. Um dos principais estímulos à informalidade, sobretudo no caso das zonas norte e oeste do Rio de Janeiro, está na própria legislação urbanística, demasiado burocrática, prolixa e muitas vezes fora da realidade socioeconômica e cultural dessas regiões. O descompasso entre o legal e o real criou uma esquizofrenia cujo resultado foi a explosão da informalidade. Um aspecto crucial da integração desses assentamentos à cidade formal é a criação de regras próprias de uso do solo e de edificabilidade, adaptadas às condições locais e negociadas entre os poderes públicos, as comunidades e os demais interessados. É preciso repactuar e deixar claro quem pode construir o quê. E de que maneira, onde e sob que condições mínimas de segurança, salubridade e conforto ambiental. Com esse conjunto de ações, poderemos lentamente reverter um dos maiores problemas das nossas cidades e periferias e enfrentar o desafio de fazê-las ambientalmente mais saudáveis e socioeconomicamente menos segregadas e partidas. Alfredo Sirkis, 51, jornalista, é secretário municipal de Urbanismo do Rio de Janeiro e membro fundador do Partido Verde. É autor do livros "Os Carbonários" (Ed. Record). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José da Silva Guedes: A municipalização da saúde Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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