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ELIANE CANTANHÊDE
Gente fina é outra coisa
BRASÍLIA - Como capital, como
qualquer centro de poder, Brasília
atrai lobistas de todos os tipos, em
seus carrões com motorista e casas
e apartamentos milionariamente
decorados, circulando por restaurantes de luxo e festinhas regadas a
ouro. O que não se sabia até agora é
que o reitor da Universidade de
Brasília, Timothy Mulholland, um
professor, vivesse como lobista -e
à custa do dinheiro público.
Como revelou a Folha, a UnB
gastou R$ 3,4 milhões com cartões
corporativos do governo entre
2004 e 2007, o que representa 31%
das despesas com cartões de todo o
Ministério da Educação e de seus
órgãos no mesmo período. Em
quê? Em contas de até R$ 1.000,00
em restaurantes, confeitarias, casas
do gênero. O tal reitor Mulholland
é gente fina, de bom gosto.
Depois soube-se que garfou R$
470 mil (ou "só" R$ 350 mil, segundo sua assessoria) de uma fundação
de apoio a projetos científicos e tecnológicos para empregar em algo
nada científico nem tecnológico: a
decoração de seu já belo apartamento de cobertura. Foram R$
2.738 para três lixeiras, R$ 36.603
para TV e som, R$ 21.600 para "telas artísticas" e, não poderiam faltar, umas plantinhas pela bagatela
de R$ 7.264. Chiquérrimo.
Com a mídia e a opinião pública
sempre focadas nas falcatruas dos
legislativos, primeiro, e dos executivos, depois, a academia vive sua
vidinha longe dos holofotes, das demandas do mundo real e de qualquer tipo de fiscalização.
A própria reportagem da Folha
já indicava outras universidades federais gastadoras. Se a campeã UnB
consumiu R$ 1,35 milhão com cartões em 2007, por exemplo, a do
Piauí gastou R$ 402,8 mil, e a Unifesp (SP), R$ 291,2 mil. Do Piauí?!
Mulholland não é só Mulholland.
Provavelmente é o fio da meada,
um entre sabe-se lá quantos reitores e burocratas de universidades
que gastam à vontade o meu, o seu,
o nosso rico dinheirinho.
elianec@uol.com.br
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