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RUY CASTRO
Aritmética do Carnaval
RIO DE JANEIRO - Todo Carnaval é assim. Enquanto milhões se
jogam na folia, outros amarram a
cara pelo fato de que, num país de
miseráveis, onde a fome, a doença e
a morte campeiam e não faltam assuntos sérios, como inundações,
desabamentos e demais desgraças,
a mídia dá tanto espaço à cobertura
de blocos, escolas de samba, mulatas e outras futilidades.
Velho adepto de futilidades, há
alguns anos comecei a me perguntar sobre a aritmética do Carnaval.
Exemplos. Quantas pessoas estariam envolvidas no desfile de uma
única escola de samba, entre designers, folcloristas, pintores, figurinistas, escultores, costureiras, chapeleiros, bordadeiras, carpinteiros,
eletricistas, ferreiros, soldadores e
outros artesãos? Quem paga essa
turma? Sem contar os empurradores de alegorias, os manobristas do
carvalhão e os adorados garis, que
passam varrendo e sambando depois de cada escola.
Quem mede a quantidade de tecidos, plumas, pedrarias, lantejoulas,
miçangas e vidrilhos que cobrem os
cerca de 4.000 figurantes dessa escola? E a de isopor, madeira e ferragens usados nos cenários dos carros? Quem calcula e compra tudo
isso em nome da escola? E compra
de que fornecedores? Há concorrência por preços mais competitivos? E qual é a margem de recuperação do investimento quando, passado o Carnaval, a escola revende o
que sobreviveu do material a escolas de praças menores?
Isto apenas no que se refere à mecânica das escolas. Mas, e o dinheiro movimentado pelos blocos, bailes, feijoadas, televisões, patrocínios, publicidade, comércio, hotelaria, táxis, cerveja, água de coco, reciclagem de latas, carros de som, engov, buscopan na veia, fotos da Madonna etc.?
Fútil ou não, o Carnaval oferece
emprego e sustenta mais famílias
brasileiras do que supõem os que
amarram a cara contra ele.
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