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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A vez dos idosos CF - 2003

A Campanha da Fraternidade 2003, lançada pela CNBB, está dedicada às pessoas idosas. Tem a intenção de motivar as comunidades cristãs e a sociedade a fim de que, iluminadas pelos valores evangélicos, procurem reconhecer a dignidade dos idosos, o respeito e a estima que merecem e a promover seus direitos. A escolha do tema chama a atenção para o fato de que a vida humana vem alcançando no Brasil maior longevidade. Os últimos dados revelam que há 15 milhões de brasileiros com mais de 60 anos. A tendência é que nos próximos 25 anos o número de idosos duplique, correspondendo a 15% da população. O motivo desta CF 2003 não é meramente o aumento numérico. Trata-se de resgatar a dignidade dos idosos, que, muitas vezes até na própria família, são relegados ao descaso e excluídos da vida social.
A CF se realiza no período litúrgico da Quaresma, em preparação à Páscoa de Jesus. É tempo de conversão pessoal e de volta intensa para Deus e torna-se também a oportunidade de um empenho coletivo das comunidades para, à luz do Evangelho, melhorar a cada ano a convivência fraterna.
Agora é a vez dos idosos. É necessário rever a situação atual em que vivem e colaborar para que cresça a auto-estima dos idosos e que haja o reconhecimento pleno de sua dignidade por parte da Igreja e da sociedade.
Precisamos constatar que existe um certo constrangimento em promover uma campanha que nos ensine a amar os próprios pais, familiares e pessoas idosas quando eles deveriam ser sempre os primeiros a receber todo o afeto e a gratidão. No entanto a CF é necessária. Existe falta de consideração para com os que têm mais idade. São pessoas que passaram por muitas vicissitudes, deram o melhor de si, trabalhando para construir o país e, não raro, vão sendo afastados do convívio familiar e social. Na maioria dos casos, a aposentadoria não permite que consigam os atendimentos à saúde e condições dignas de vida. O descaso de que são vítimas é fruto do egoísmo e de uma cultura materialista e utilitarista, que descarta aos poucos aqueles que não mais produzem. A CF nos convoca para identificar o valor absoluto da pessoa humana nas diversas fases da vida. Trata-se de reeducação para viver o mandamento do amor. Temos de descobrir a riqueza das qualidades dos idosos, sua experiência de vida, capacidade maior de compreensão e aconselhamento, sabedoria e virtude de que nos dá excelente testemunho o Papa João Paulo 2º.
A conversão de nossas atitudes deve começar na família, envolvendo com consideração e afeto as pessoas de mais idade e conservando-as sempre que possível no convívio e aconchego familiar. Na ausência de parentes, ou quando houver necessidade de cuidados especiais de saúde, as comunidades organizem lares acolhedores, assegurando apoio e visitas constantes.
O texto-base da CF insiste na promoção de políticas públicas, na atuação dos conselhos de direito dos idosos e nas iniciativas das comunidades que vão surgindo para oferecer à terceira idade condições de estudo, de atividades artísticas e de diversão. Tudo isso há de ajudar os idosos a reencontrar o gosto pela vida e a todos a reencontrar a alegria de fazê-los felizes, aprendendo cada um a arte de envelhecer com dignidade.
Na bela mensagem que o Papa João Paulo 2º enviou para o lançamento da CF 2003, saúda e abençoa a todos idosos, recorda o valor da vida terrena até o fim e convida-nos a encarar com serenidade e esperança, à luz da fé, a certeza da vida plena e feliz que Deus na sua bondade nos reserva.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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