UOL




São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Os intelectuais e a paz

RIO DE JANEIRO - Um grupo de intelectuais, com origens e pensamentos diferentes, está se agrupando num manifesto a favor da paz, ameaçada pela truculência dos setores majoritários da política norte-americana.
Já foi tempo em que assinar manifesto pedindo paz era fazer o jogo da União Soviética. Ela não mais existe -e, entre mortos e feridos, embora fosse governada pela ditadura corrompida e incapaz do Kremlin, funcionava como um contraponto, uma superpotência em oposição a outra, evitando que a Guerra Fria ficasse quente.
Sozinhos no páreo, e sob o pretexto de impor a democracia a um país governado por um tirano, os Estados Unidos estão desafiando a opinião pública mundial e colocando em risco milhares de vidas de ambos os lados para se apoderar não apenas da segunda maior reserva de petróleo do mundo mas de uma base, talvez a mais importante, para o controle militar, econômico e político de uma vasta região do planeta.
Pedir paz não significa dar razão ao ditador. Em 1991, o mesmo Saddam, ao invadir o Kuait, colocou contra o Iraque a absoluta maioria dos países de todos os continentes. Nem assim, aproveitando o apoio mundial, os Estados Unidos deixaram de cometer erros técnicos e políticos na condução de uma guerra que poderia ser considerada, senão justa, ao menos compreensível.
Agora, não. O argumento invocado por Bush, além de desmentido pelos fatos, não justifica o massacre de um país, de todo um povo.
Os intelectuais brasileiros, mais uma vez, querem expressar o seu repúdio à violência e à estupidez. O economista Celso Furtado, o ensaísta Sérgio Rouanet, os poetas Alberto Costa e Silva e Ivan Junqueira, o memorialista Affonso Arinos de Mello Franco estão coordenando o manifesto (secretaria@academia.org.br) que certamente não impedirá a guerra, mas a condenará, em nome do bom senso e da dignidade da espécie humana.


Texto Anterior: Brasília - Valdo Cruz: O veneno pefelista
Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: A vez dos idosos CF - 2003
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.