São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Legenda oculta, inclusão explícita
LÚCIO ALCÂNTARA
No Brasil, segundo dados da OMS, estima-se que existam hoje mais de 2,5 milhões de surdos e cerca de 13 milhões de pessoas portadoras de deficiências auditivas. Os beneficiados pela introdução da legenda oculta na TV representariam, desse modo, um contingente bastante significativo de nossa população. Poder-se-ia argumentar que uma simples ampliação, na programação televisiva, do uso da linguagem de sinais já apontaria o caminho para uma possível solução do problema. No entanto, apesar de extremamente louvável, tal técnica não responde por completo às necessidades de boa parte dos deficientes auditivos. Afinal, a linguagem de sinais requer, por sua complexidade específica, um longo processo de aprendizagem. Assim, para os que sofreram uma perda auditiva mais tardiamente, torna-se difícil investir o tempo necessário para sua aquisição. E, como esse modelo de comunicação exige uma atenção total e ininterrupta dos interlocutores, quando transmitido pela TV, tende em poucos minutos a se tornar extremamente cansativo, mesmo para os que já dominam a técnica com razoável desenvoltura. Além de sua inegável importância para a inclusão social dos deficientes auditivos, a legenda oculta acabou revelando-se também um relevante recurso pedagógico. Nesse sentido, ela tem beneficiado um número incalculável de pessoas nos países em que foi sistematicamente adotada. Para estudantes do nível fundamental, a legenda oculta tende a redobrar a atenção para o uso correto da ortografia, a ampliar o vocabulário e a desenvolver a capacidade de compreensão da leitura. Como ganho cognitivo adicional, a aquisição de novos conceitos também é favorecida, através da apresentação multissensorial -imagem, linguagem oral e palavra escrita, simultaneamente- das informações que são oferecidas aos pequenos telespectadores em fase de alfabetização. Já para os estrangeiros e imigrantes que entram em contato com uma nova língua, o recurso do "closed caption" mostra-se igualmente um auxílio eficiente na aquisição, ampliação e fixação de vocabulário. Junte-se a isso a utilidade complementar que a tecnologia da legenda oculta trará nas situações em que o som da TV tenha de ser reduzido, como em hospitais ou em locais de alto nível de ruído, a exemplo de aeroportos, restaurantes e academias. Mas, sem dúvida, os grandes beneficiados com a medida serão mesmo os milhões de deficientes auditivos do país. Foi inspirado neles que nasceu o projeto, devidamente aprovado pelo Senado em 2000 e, desde setembro do ano seguinte, aguardando parecer na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara Federal. E é também em nome deles, os deficientes auditivos, que a idéia precisa ser recolocada, o quanto antes, na ordem do dia. É uma questão de garantir o direito comum à informação. Lúcio Alcântara, 60, é governador, pelo PSDB, do Ceará. Foi vice-governador do Estado (1991-94) e senador da República (1996-2002). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José de Souza Martins: O risco da mixórdia agrária Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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