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AGORA É KIRCHNER
Carlos Menem novamente
menosprezou as instituições
argentinas. Em mais um lance deplorável de sua trajetória política, renunciou à disputa do segundo turno
das eleições presidenciais, que se daria no próximo domingo, temeroso
de sofrer retumbante derrota. Espera-se que esse seja o último tango do
caudilho, o funeral de uma carreira
pública marcada pela irresponsabilidade e pontuada por escândalos.
Para a Argentina é melhor tratar do
futuro. E o futuro, após a debandada
do menemismo, se fará com Néstor
Kirchner na Casa Rosada. A eleição
do governador da Província de Santa
Cruz é uma vitória do presidente
Eduardo Duhalde. O sinal enviado
pelo futuro governante é o da continuidade da atual linha de gestão.
Se a promessa for concretizada, isso significará a manutenção, na economia, do esforço de produzir grandes saldos comerciais a ponto de
manter o país superavitário em suas
relações com o exterior. Kirchner
também acena com uma negociação
dura, a exigir descontos e prazos dilatados, com os credores da dívida
externa argentina, cujo pagamento
foi suspenso no final de 2001.
Esse arranjo de política interna implica o reforço dos laços políticos e
econômicos com o Brasil, no Mercosul. A hipótese de um retorno da Argentina às chamadas "relações carnais" com os EUA ficou mais distante, o que faz prever uma nova dinâmica nas negociações sobre a Alca.
Fortalece-se, no âmbito sul-americano, o papel de liderança do Brasil,
aspecto importante da agenda do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Evidentemente não se devem superestimar as potencialidades do Mercosul, tampouco imaginar que seu
fortalecimento possa vir a ocorrer rapidamente. O projeto regional enfrentará uma série de obstáculos, a
começar pelas dificuldades por que
passam ambos os países -situação
ainda mais dramática no caso da
economia argentina. Além disso, paradigmas que prevaleciam até o passado recente no cenário internacional -o multilateralismo e o dólar
forte, por exemplo- hoje são objeto
de revisão profunda.
As chances, portanto, de que se
frustre a aposta de Lula e Kirchner no
Mercosul são ponderáveis. O sucesso ou o fracasso do projeto vai depender muito da capacidade dos dois
países de formular e implementar
políticas que reforcem as defesas financeiras do bloco num período de
renovada turbulência internacional.
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