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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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AGORA É KIRCHNER

Carlos Menem novamente menosprezou as instituições argentinas. Em mais um lance deplorável de sua trajetória política, renunciou à disputa do segundo turno das eleições presidenciais, que se daria no próximo domingo, temeroso de sofrer retumbante derrota. Espera-se que esse seja o último tango do caudilho, o funeral de uma carreira pública marcada pela irresponsabilidade e pontuada por escândalos.
Para a Argentina é melhor tratar do futuro. E o futuro, após a debandada do menemismo, se fará com Néstor Kirchner na Casa Rosada. A eleição do governador da Província de Santa Cruz é uma vitória do presidente Eduardo Duhalde. O sinal enviado pelo futuro governante é o da continuidade da atual linha de gestão.
Se a promessa for concretizada, isso significará a manutenção, na economia, do esforço de produzir grandes saldos comerciais a ponto de manter o país superavitário em suas relações com o exterior. Kirchner também acena com uma negociação dura, a exigir descontos e prazos dilatados, com os credores da dívida externa argentina, cujo pagamento foi suspenso no final de 2001.
Esse arranjo de política interna implica o reforço dos laços políticos e econômicos com o Brasil, no Mercosul. A hipótese de um retorno da Argentina às chamadas "relações carnais" com os EUA ficou mais distante, o que faz prever uma nova dinâmica nas negociações sobre a Alca.
Fortalece-se, no âmbito sul-americano, o papel de liderança do Brasil, aspecto importante da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Evidentemente não se devem superestimar as potencialidades do Mercosul, tampouco imaginar que seu fortalecimento possa vir a ocorrer rapidamente. O projeto regional enfrentará uma série de obstáculos, a começar pelas dificuldades por que passam ambos os países -situação ainda mais dramática no caso da economia argentina. Além disso, paradigmas que prevaleciam até o passado recente no cenário internacional -o multilateralismo e o dólar forte, por exemplo- hoje são objeto de revisão profunda.
As chances, portanto, de que se frustre a aposta de Lula e Kirchner no Mercosul são ponderáveis. O sucesso ou o fracasso do projeto vai depender muito da capacidade dos dois países de formular e implementar políticas que reforcem as defesas financeiras do bloco num período de renovada turbulência internacional.


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