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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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EXPURGO PETISTA

A decisão da cúpula petista de convocar uma Comissão de Ética e Disciplina com vistas a expulsar da organização representantes de sua ala "radical" é mais um episódio na consolidação da nova etapa que vive o partido. O surgimento de uma dissidência esquerdista já estava em curso havia tempos e, certamente, fazia parte do cálculo político do núcleo dirigente do PT quando se consolidou a opção pragmática por uma guinada ao centro, visando ao êxito nas eleições de 2002.
Ninguém imaginaria que a ala esquerdista fosse assimilar silenciosamente a elástica ampliação das alianças políticas, seguida, após a conquista do Planalto, de uma conservadora condução da economia e da adesão a reformas antes contestadas.
É inegável que o modo brusco como se deu a virada política do PT, da oposição ao poder, o expõe a acusações de oportunismo político. Da mesma forma, é impossível não ver aspectos autoritários e contraditórios na decisão -praticamente já tomada- de banir, exemplarmente, o "babaísmo" da agremiação.
Seria ingenuidade, porém, simplesmente transformar em mártires os componentes do ruidoso grupelho. Afinal, mostram-se abertamente dispostos a votar contra as novas determinações do partido, contrariando o salutar princípio da fidelidade partidária, e fazem da intransigência um espetáculo para a mídia.
O processo em curso não deixa de ter o sabor de uma reencenação farsesca da velha tradição de expurgos e eliminação de dissidentes que marca a história das organizações de esquerda. Uma dose de ironia é adicionada ao episódio quando se constata que alguns dos prováveis banidos do PT professam o trotskismo, doutrina ligada a Leon Trótski, líder bolchevique do Exército Vermelho, que acabou assassinado a mando de seu ex-"companheiro" Josef Stálin.


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