São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003 |
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OTAVIO FRIAS FILHO Malandros e radicais
O governo parece decidido a enquadrar ou expulsar os chamados radicais do PT. Age de acordo
com o manual ao fixar o precedente,
quando ainda está forte, de que dissidências não serão toleradas. Escolhe
uns gatos pingados, cujo quixotismo
vem sendo estimulado a golpes de holofote, para servir de aviso aos navegantes. Apóia-se no tão reclamado
princípio da fidelidade partidária.
Se tem sido incongruente em quase
todos os demais quesitos, o governo
Lula mantém-se fiel à tradição do PT
de unidade na ação. É o argumento a
que a cúpula se aferra: todos podem
expor seu pensamento e divergir, mas
estão obrigados a votar com a maioria. De fato, não se pode clamar por
coesão partidária e defender o direito
de os "radicais" a violarem no PT.
Estes têm um argumento que autoriza, ao menos formalmente, sua atitude. Embora sua posição seja arquiminoritária nas instâncias do partido,
ela não contraria a instância máxima,
a convenção nacional que se reuniu
pela última vez quando o PT ainda era
"radical". Os dissidentes revelam, assim, o quanto há de apressado e oportunista na conversão da cúpula à ordem vigente.
É estranho, porém, que uma convenção partidária possa se sobrepor à
maior das instâncias, aquela que assinou um cheque em branco (como em
toda eleição) chamado Lula. Mas não
vale perder tanto tempo com a escolástica, tão cara à esquerda, das ortodoxias e dos expurgos. O governo age
como todo governo, vide a cooptação
da nossa maior legenda de aluguel, o
outrora glorioso MDB.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna. Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Cultura e culturas Próximo Texto: Frases Índice |
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