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ANTIAMERICANISMO
O recuo do Planalto no
cancelamento do visto do jornalista Larry Rohter, do diário "The
New York Times", encerra a comédia
de erros em que se transformou o
episódio, mas não apaga suas conseqüências deletérias. Entre elas, fica o
reforço da percepção de que subsiste
uma tendência antiamericanista no
governo e em sua política externa. É
o que se deduz da defesa de uma tese
conspiratória pelo chanceler Celso
Amorim, que viu na reportagem o
dedo de forças interessadas em abalar a "liderança internacional" do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A política externa brasileira, em
que pesem gestos extemporâneos,
como as constrangedoras bajulações
a Fidel Castro, vinha pautando-se, no
essencial, por uma atitude firme,
mas razoável, de defesa dos interesses do país nos fóruns globais.
Vista como regressiva por alguns, a
atuação do Ministério das Relações
Exteriores, na realidade, não se
transmudou de água em vinho com a
troca de governo. Foi na administração Fernando Henrique Cardoso,
por exemplo, que se enfrentou os
EUA na espinhosa questão da quebra de patentes de medicamentos para conter epidemias como a de Aids.
Da mesma forma, a recente e inédita vitória obtida na Organização
Mundial de Comércio (OMC), que
reconheceu a contestação brasileira a
subsídios oferecidos pelo governo
norte-americano a produtores de algodão, foi construída na gestão anterior. Com efeito, esses casos demonstram a existência de algumas linhas de continuidade em relação ao
período precedente, embora, sob o
petismo, pontuadas aqui e ali por
"bravatas" juvenis.
O comando da diplomacia brasileira, não obstante, vinha conseguindo
sobreviver às tentativas de identificá-lo como um núcleo ideológico mais
interessado em fazer proselitismo
contra a grande potência mundial do
que em obter conquistas concretas.
Lamentavelmente, foi para endossar essa imagem negativa que serviu
o apoio do chanceler Celso Amorim
à bisonha decisão, ora revista, de cassar o visto do correspondente.
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