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RELIGIÃO E ESTADO
É preocupante a decisão do
governo fluminense de introduzir o ensino do criacionismo nas escolas estaduais. A Bíblia e o belo relato do "Gênesis" sobre a origem da
Terra merecem todo o respeito, é claro, mas é preciso aqui repetir o velho
brocado: cada coisa no seu lugar.
Há algo de esquizofrênico em um
aluno entrar na aula de ciências e
aprender que o homem é o resultado
de milhões e milhões de anos de seleção natural, como estabeleceu o
naturalista Charles Darwin (1809-1882), e, em seguida, ouvir do professor de religião que Adão e Eva foram
feitos "à imagem e semelhança de
Deus" no sexto dia da criação.
Para evitar esse tipo de situação
abstrusa, o ideal é que igrejas ensinem religião e que as escolas da rede
oficial fiquem com a ciência. Infelizmente, a Constituição de 1988, num
duro golpe contra a separação entre
Estado e igreja, estabeleceu o ensino
religioso, de matrícula facultativa,
como disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental (art. 210).
O mandamento constitucional,
porém, está longe de significar que o
Estado deva chancelar a versão bíblica do surgimento do mundo. Aceitá-la ou não é uma decisão individual,
que passa pela fé de cada um. Já o
evolucionismo darwiniano é ciência
baseada em fatos comprováveis.
A sensação que fica é a de que a governadora Rosinha Matheus e o seu
marido, Anthony Garotinho, estão
se utilizando do sistema educacional
para conquistar a simpatia de grupos
religiosos e, com isso, alimentar
suas aspirações políticas.
De resto, nunca é demais insistir
no fato de que foi a separação entre
Estado e igreja que permitiu o surgimento das democracias contemporâneas. A Carta brasileira de 88, infelizmente, consagrou um retrocesso
ao estabelecer o ensino religioso financiado pelo Estado.
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