São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Pensar antes de agir
"O PT está descobrindo, à força, que política é coisa de gente grande. Como adolescente emburrado, o governo responde mal a todo o mundo e perde boas chances de pensar antes de agir. Melhor do que expulsar o jornalista do Brasil teria sido oferecer a Larry Rohter a chance de fazer um mestrado ou doutorado em sua área, pois seu texto seria reprovado em qualquer teste para estágio. Numa só tacada, o governo federal demonstraria "fair play" e o seu compromisso com a seriedade das coisas, principalmente com a educação e a liberdade de imprensa brasileira. E, se quisesse estudar mesmo no Brasil, o jornalista norte-americano teria, aí sim, grandes pautas do Cone Sul para o seu grande jornal do norte. Pensando bem, o Brasil também é ainda um adolescente emburrado no cenário internacional: ruge e reclama, mas não tem a menor importância."
Adriana Leite e Santos (Macaé, RJ)

"Uma informação preciosa foi publicada ontem na Folha ("EUA baniram jornalista no ano passado", Brasil, pág. A7): em fevereiro de 2003, os EUA expulsaram um jornalista iraquiano, correspondente na sede da ONU, em Nova York. Por que esse ato não obteve em nossa mídia e de nossos jornalistas o mesmo repúdio gerado pela suspensão do visto temporário de trabalho do lamentável jornalista do "New York Times'? Parece que liberdade de imprensa está sendo confundida com libertinagem na imprensa. A maledicência tem terríveis conseqüências predatórias. Basta lembrar o caso do ministro da Saúde e as bicicletas, o episódio da Escola Base... Infelizmente, o "NYT" fez um grande estrago no país."
Alfredo Sternheim (São Paulo, SP)


"Gostaria de manifestar minha opinião sobre a acusação feita por texto publicado no jornal "The New York Times" de que há dúvidas sobre a liberdade de imprensa aqui no Brasil. Será que temos um jornal de coragem para lembrar ao jornal norte-americano que lá se proibiu exibir fotos de soldados americanos mortos na Guerra do Iraque? Isso não é cercear a liberdade de imprensa? Engraçado como os pontos de vista se modificam."
Silvana Pereira Coutinho (Valinhos, SP)

"A charge de ontem de Angeli é preconceituosa. O autor não apenas retratou Lula como um gorila (tempo do regime militar) mas mostrou-o como um não-branco que teve a ousadia de querer ser presidente (se isso é bom ou mau não vem ao caso). Todos se levantaram contra a decisão do presidente de expulsar o jornalista americano. Também achei exagerada a reação. Entretanto temos de entender que não se pode desmoralizar todo dia um presidente da República (qualquer República), como fez ontem Angeli, e querer que a Justiça (com toda a sua morosidade) seja o único recurso para julgar as infâmias. Do jeito que a coisa vai, a Folha e qualquer órgão de imprensa podem todo dia desmoralizar um legítimo representante do poder público e somente responder pelo fato daqui a uns dez anos, quando o mal já será irreparável, com uma nota no pé de alguma página. Se a Justiça, que reconhece a liberdade de imprensa, fosse rápida para julgar tais casos e se houvesse punição real aos faltosos, não haveria problemas. Entretanto, como somos um país de mulatos com leis de brancos, estes se organizam de maneira a desestabilizar as instituições sempre que um não-branco possa querer ascender a algum posto que a elite julga ser seu privilégio. A imprensa livre norte-americana acobertou todas as bandalheiras no Iraque e agora começa a desmoralizar os latino-americanos."
Januário Crispim Coelho Pinto (Belo Horizonte, MG)


"Chama a atenção a postura do governo que se diz "democrático". Quando um alto funcionário do Gabinete Civil é flagrado em um cambalacho que envolve os estabelecimentos que propiciam o jogo de bingo, fecham-se esses estabelecimentos. Se um jornalista estrangeiro escreve reportagem que não é do gosto da cúpula governista, expulsa-se o jornalista. E, de quebra, estrelas vermelhas surgem junto aos prédios onde a "nomenklatura" se concentra. Pelo visto, há muita gente que não acredita que o stalinismo já virou história --e não é só o padre Tilden, que nos representa lá em Cuba, que pensa assim."
Rubem Prado Hoffmann Júnior, promotor de Justiça (São Paulo, SP)


"Como se não bastasse o fato de que o presidente Lula e o partido ao qual ele pertence construíram assumidamente suas trajetórias políticas na base de bravatas, agora, cheios de poder, exercem um autoritarismo típico de quem não possui o mínimo discernimento a respeito de onde terminam as fronteiras do Estado que deveriam representar. O "NYT" atacou o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Ponto. O fato de tal cidadão ser presidente da República é decorrência de uma democracia pela qual ele lutou, mas que aparentemente não gosta de praticar. Ainda que o repórter norte-americano tenha sido leviano -atribuiu dimensão de segurança de Estado ao gosto etílico do presidente, o que não é comprovado-, não foram poucas as situações em que o cidadão Lula, no exercício da Presidência, passou a imagem de apreciador de bebidas. Sendo figura pública, então, deveria conviver civilizadamente com a diversidade de opiniões. Eu, como brasileiro, pergunto-me: onde vamos parar? Lula elegeu-se vendendo contos de fadas que, obviamente, não tem condições de realizar. Disse que o radicalismo nunca o levou a lugar nenhum, mas acaba de ter um surto de ditador de segunda classe (não sei se existe um de primeira classe). Lula emperrou parte da nossa história com bravatas que, ainda bem, não coloca em prática agora que é o dono da bola. Cabe a questão: Lula acredita no que prega? Se sim, o nosso presidente padece de algum mal que simplesmente o leva a dissociar sua retórica das suas ações. Se não, bem, aí a gravidade é óbvia."
Waldemar de O. Battiferro (São Paulo, SP)

Tireóide
"O texto "Exame elimina cirurgia inútil de tireóide" (Cotidiano, pág. C9, 4/4) suscitou dúvidas que trouxeram grave risco a pessoas que, tendo um câncer de tireóide, podem deixar de se submeter à operação. A cirurgia da tireóide é um ato médico que tem critérios claros de indicação. Só será inútil se indicada fora desses princípios. Nesse caso, tratar-se-á de erro médico passível de sanções. O texto divulgou a existência de exame que não existe e que talvez venha a ser produto de pesquisa que envolve vários hospitais no Brasil e que ainda não foi concluída. Quem representa cientificamente os especialistas em cirurgia da tireóide é a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, que deveria ter sido consultada antes da publicação. De outra forma se promoverá alguém que pode estar falando algo sem conhecimento ou com intenções outras."
Marcos Roberto Tavares, professor livre-docente pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP (São Paulo, SP) Resposta da jornalista Claudia Colucci - A reportagem deixa claro que se trata de um teste genético ainda em fase experimental. A pesquisa está sendo coordenada por duas instituições de renome internacional, o Hospital do Câncer e o Instituto Ludwing.



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