São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

Próximo Texto | Índice

FALTA DE OPÇÃO

Ao bater às portas do governo dos EUA, em busca de apoio financeiro, o governo argentino tem ouvido que deve entender-se com o FMI. Mas os entendimentos com o Fundo não avançam. A descrença das autoridades financeiras internacionais na Argentina continua muito grande. De menina dos olhos, o país se transformou em pária. E não consegue escapar dessa condição.
Uma nova missão do FMI está em Buenos Aires. Fala-se, sem entusiasmo, na possibilidade de que seja firmado um acordo até meados de julho. A pressa é mais do que justificada, pois a deterioração econômica e social aguda exige respostas rápidas.
Mas os argentinos não têm muitas ilusões quanto à dimensão do apoio financeiro que poderão obter. A liberação de dinheiro novo pelo FMI é considerada improvável. Cogita-se, basicamente, que se permita à Argentina postergar o pagamento, ao próprio FMI, dos volumosos créditos que vencem até o final de 2003. Talvez o Banco Mundial e o BID, depois de fechado o acordo com o FMI, liberem novos empréstimos.
No todo, não se espera que esse eventual acordo propicie alívio relevante para o financiamento das contas externas e das contas públicas. Por isso o Banco Central da Argentina pleiteia a concordância do FMI para imprimir quatro vezes mais pesos do que era previsto no Orçamento do país para 2002.
Essa atitude denota a falta de opções do governo platino. Ainda não se chegou a um mínimo consenso político em torno da distribuição -entre os bancos, os poupadores de classe média, os trabalhadores assalariados e o próprio setor público- das perdas geradas pela crise. O financiamento do governo por meio da emissão de moeda representa um mecanismo "cego" de arbitragem de perdas -que não tira a economia argentina do seu impasse financeiro, mas, ao alimentar a inflação (que pode chegar a 100% neste ano), agrava o prejuízo dos maiores perdedores: os trabalhadores assalariados.
Nesse quadro, não surpreende a incipiente ascensão de grupos políticos de esquerda, que até há pouco tinham papel marginal na Argentina.



Próximo Texto: PREVENIR HOMICÍDIOS
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.