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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Os caminhoneiros
São muitos . São gente sofrida,
que enfrenta com coragem as rodovias e os desafios da vida. Deles depende o abastecimento do país, são
eles que asseguram que as mercadorias cheguem aos pontos mais distantes. Viajam dia e noite, sem descanso,
pelas estradas -algumas em péssimo
estado de conservação-, com veículos pesados e sem o devido apoio técnico em muitas áreas do interior.
Quem encontra os caminhoneiros
nos postos e nos lugares de parada ou
quem, às vezes, partilha da cabine ao
lado do motorista percebe um pouco
do mundo interior desses desbravadores de estradas. No painel de direção, colocam fotografias das pessoas
queridas, que permanecem, assim,
diante do olhar de quem guia, num
colóquio de palavras e cantos que,
muitas vezes, só Deus ouve. Embora
distantes, pensam nas esposas e nos filhos e contam nos dedos as horas que
faltam para voltar para casa e abraçá-los. Nas intermináveis horas de viagem, passam do silêncio ao diálogo
imaginário e aos programas de rádio,
com grande preferência pelas informações de estrada e pelas mensagens
religiosas.
Entre os caminhoneiros, há uma
forte solidariedade. Falam, às vezes,
por monossílabos e por toques de buzina, saudando-se pela estrada como
velhos amigos. Momento de distensão
é o encontro em alguns postos preferidos para alimento, descanso e controle do veículo. Não é tão raro que improvisem um braseiro para partilhar
pequenos pedaços de churrasco entre
conversas e ao som da sanfona. Nesses
estacionamentos, em especial no sertão, ajudam-se uns aos outros, velando para que nada aconteça durante a
noite que passam trancados no próprio caminhão.
Sabemos, com efeito, que esses heróis das estradas são vítimas de assaltos. Ainda recentemente, muitos foram assassinados com brutalidade,
sem nenhuma defesa. Inúmeros acidentes aumentam a todo momento o
número dos caminhoneiros que ficam
feridos ou perdem a vida. Começa aí o
drama das famílias que sofrem o desamparo por falta de seguro e de auxílio da sociedade.
As cruzes fincadas à margem das estradas atestam a frequência dos acidentes fatais. Tudo isso nos faz pensar
na vida árdua, nos constantes riscos e
no padecimento e desgaste das centenas e milhares de caminhoneiros que,
a cada dia, cruzam as nossas estradas
em todas as direções.
Essa era uma das preocupações do
jornalista Tim Lopes, amigo dos motoristas de caminhão. Ele fez várias reportagens sobre a classe e preparava
uma ampla cobertura a respeito da vida sofrida das estradas.
Os caminhoneiros quiseram prestar
uma homenagem a Tim Lopes. O Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros, SUBC, convidou os companheiros para a missa celebrada nas
primeiras horas da manhã de 12/6, no
pátio em frente à portaria da Belgo-Mineira, em Contagem (MG). Homens e mulheres, alguns ainda cansados da noite em claro, foram chegando de caminhão e reunindo-se em torno do altar improvisado para rezar
por Tim Lopes e pelas vítimas da violência. Foi comovente ouvir as preces
marcadas pela fé, pela solidariedade e
pela gratidão, que pediam a Deus o
descanso eterno do amigo, a superação da brutalidade do tráfico de drogas e do crime organizado e a proteção
nas estradas.
Unamos nossa oração à dos caminhoneiros, rogando a Deus que cada
um, a exemplo de Tim Lopes, se comprometa com a justiça e com o pleno
respeito à vida, dom de Deus.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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