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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Motocicletas, sim, mas com ordem e responsabilidade

Você, caro leitor, que dirige automóvel em São Paulo, deve passar por sobressaltos ao se deparar com a enorme massa de motociclistas que circulam na capital paulista.
É claro que todos têm direito ao uso das vias públicas. Mas há usos e usos. Os "motoqueiros" se enfiam pelas apertadas frestas que ficam entre os automóveis, colocando sua própria vida em risco e causando graves problemas para os motoristas e até para os pedestres.
Com os terríveis congestionamentos do trânsito em São Paulo, é compreensível o espetacular crescimento das motocicletas para serviços de entregas rápidas -de um modo geral, mal remunerados. Para os motoristas e pedestres, a profusão de motoqueiros indisciplinados faz a tensão aumentar. Para os motoqueiros, a baixa remuneração faz o seu ritmo disparar. Isso não é justo para ninguém.
A motocicleta é o veículo de maior propensão a acidentes, que, além da dor e do sofrimento para os condutores e para as vítimas, geram um custo da ordem de R$ 5,3 bilhões por ano segundo estudo recente. Nessa cifra, são computados danos aos veículos, assistência médico-hospitalar aos acidentados, processos judiciais, verbas previdenciárias, perda de dias de trabalho e outras despesas. O que mais impressiona é saber que as motocicletas são responsáveis por quase 20% desses custos -R$ 1 bilhão!- (Ipea, "Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito", Brasília, 2003).
Tudo indica que a frota de motocicletas vá aumentar ainda mais. É a inércia do crescimento de um tipo de veículo em uma cidade que não tem espaço.
Isso não significa, porém, que as autoridades continuem inertes em relação ao problema. Nos países mais avançados, a ocorrência de mortes em acidentes de trânsito é infinitamente menor do que no Brasil. No Japão, por exemplo, morrem anualmente 1,32 pessoas por 10 mil veículos em circulação; na Alemanha, 1,46; nos Estados Unidos, 1,93. Pois bem, no Brasil, 6,8 pessoas são vítimas de fatalidades, sendo que a maior incidência ocorre com as motocicletas. É uma calamidade!
As autoridades municipais, estaduais e federais terão de tomar medidas urgentes para coibir a indisciplina que toma conta do trânsito de São Paulo e de outras capitais.
Além de uma forte atuação educativa com os motociclistas, impõem-se outras medidas de controle. Por que não se instalar radares especializados para flagrar os infratores? Por que não reforçar o policiamento para exigir que os motociclistas respeitem o Código do Trânsito? E por que não melhorar a remuneração dos motociclistas para poder exigir deles uma conduta mais pausada e mais segura para o benefício de todos?
O problema está instalado. Todos merecem respeito e proteção. A começar pelos próprios motociclistas. É preciso agir de forma humana e inteligente.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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