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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A fome e os fominhas

RIO DE JANEIRO - Pior do que a turma do contra, que sempre está descontente com o rumo dos governos e só enxerga o lado sombrio da sociedade, é o pessoal que está permanentemente a favor de tudo o que o seu mestre mandar -seja lá que mestre for e seja qual for a coisa mandada.
Para uma equipe nova, como a atual, que está começando o seu sexto mês de administração, é injusto cobrar tudo de uma vez. E mais injusto ainda é negar o crédito de confiança que o povo nela depositou. Até aí, tudo bem.
Contudo esse Fome Zero começa a ser defendido com unhas e dentes pelos eternos panfletários a favor do poder, que se esbofam para provar que o programa em curso nada mais é do que uma espécie de maravilha curativa, uma dessas pomadas que curam desde uma unha encravada a um câncer no esôfago.
É bem verdade que a maioria das críticas ao maravilhoso programa são pontuais, cobrando cadastros, resultados instantâneos e definitivos, coisas assim.
É evidente que esses problemas poderão ser sanados aos poucos, com trabalho, vigilância, vontade de acertar. Não é por aí que, desde que foi anunciado, venho criticando o Fome Zero. Dou de barato que a maioria das dificuldades de sua instalação pode ser enfrentada e vencida.
Minha crítica ao Fome Zero é estrutural: compete ao governo criar condições de desenvolvimento social e econômico que traga, como subproduto, a fome zero.
Se o marketing, o tempo e o dinheiro que estão gastando com o mutirão assistencialista -contra o qual, ninguém de bom senso pode ser contra-, se toda a soma de energia e de recursos fosse canalizada para a reforma agrária de verdade, para a criação de empregos e para a melhoria salarial da população, teríamos, aí sim, uma ação de governo que colocaria o país no caminho economicamente correto e socialmente justo.


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