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ELIANE CANTANHÊDE
O espião
BRASÍLIA - Fui das muralhas da China às praias de Maceió e estava tudo
ótimo nas férias. Só não esperava que
Brasília andasse tão divertida. Até
espiões pululam no Planalto, a preço
de banana.
As manchetes dos jornais, a bem da
verdade, estão iguaizinhas às de um
mês atrás. Senão, vejamos: o Exército
no combate à violência urbana e às
voltas com roubos de arma nos quartéis; o acordo da União Européia com
o Mercosul, sempre na bica de sair; o
governo e os aliados trocando sopapos no Congresso por causa do salário mínimo de R$ 260.
O que não pára de surpreender são
os bastidores do Planalto, enquanto
Lula e Marisa dançam forró no Torto. A última é a Abin (a agência de
inteligência do governo) espionar
quem espiona. Ao que parece, todos
espionam todos. No meio, um ou dois
jornalistas que assessoram ministros
são suspeitos de passar informações
sigilosas para tucanos por R$ 2.500
mensais num país em que corrupção
se mede em milhões.
Governo que é governo convive
com espionagem e não é de hoje.
Nem os presidentes militares se livraram disso, e a frase do general Golbery, o bruxo de Geisel, continua fresquinha: "Criei um monstro". Criador
e criatura. O "monstro" era o SNI, que
muda de nome, de roupa e de quadros, mas está sempre pairando por
aí. Agora não poderia ser diferente.
Mas daí a alguém do governo vislumbrar um complô extraterrestre
em normais e inevitáveis vazamentos
sobre reuniões, disputas de poder e
idiossincrasias palacianas é típica
fantasia conspiratória da velha esquerda. Façam-me o favor...
O que há -além dos desvios de
sempre da Abin, como de seus antecessores- é uma brigalhada infernal
no palácio de Lula. José Dirceu, sempre ele, está no centro de tudo. As fofocas começam nele, espalham-se em ondas ao redor dele e voltam-se contra ele. Que se defende procurando
chifre em cabeça de cavalo e tucanice
em petista de carteirinha ou de coração. É assim que Brasília está. De
morrer de rir ou de chorar, dependendo do lado. Férias, pra quê férias?
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