São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Desarmar para salvar
LUIZ FERNANDO DELAZARI
No meu Estado, o Paraná, o tratamento de feridos por armas de fogo custa aos cofres públicos cerca de R$ 30 milhões por ano. O montante supriria facilmente a demanda anual da Secretaria Estadual da Saúde pela construção de novos hospitais e compra de medicamento de primeira necessidade. Também identificamos que a nossa tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) representa um dos principais corredores para a entrada de armas contrabandeadas no país. Estamos fazendo a nossa parte, intensificando a fiscalização nas estradas que ligam Foz do Iguaçu ao restante do Estado, investindo em tecnologia para patrulhar nossa faixa fronteiriça e participando ativamente das ações das polícias Civil e Militar. Mas é preciso que o governo federal reequipe e aumente o efetivo da Polícia Federal nas fronteiras para inibir e coibir o tráfico de armas. Essa preocupação recorrente vem sendo transmitida ao Poder Executivo. Outra iniciativa do nosso Estado foi o lançamento da campanha "Menos armas e mais vidas". Enquanto governos de vários países discutem as estratégias mais eficientes para desarmar a população, o Paraná optou pela ação! Desde janeiro, estamos pagando R$ 100 por cada arma entregue ao Estado. Em apenas cinco meses, a campanha atingiu o incrível número de uma arma fora de circulação a cada meia hora. O sucesso da empreitada pode ser medido facilmente. Em 2003, foram apreendidas 3.500 armas de fogo no Paraná. Entenda-se por "apreensão" a necessidade de intervenção policial. Nos primeiros cinco meses da campanha, a população nos entregou mais de 17 mil armas, certamente um recorde nacional. Do total, 95% em plenas condições de uso. Se a nossa iniciativa é ou não a mais viável pouco importa. Precisávamos deixar o plano teórico e partir para a esfera da praticidade, inclusive relevando interesses políticos estaduais e nacionais. As nossas conquistas servirão de ponto de partida para ecoar o tema do desarmamento nacionalmente. No último dia 8, especialistas das mais diversas áreas passaram o dia em Curitiba debatendo as melhores alternativas para desarmar a sociedade. Ao final do evento, foi elaborado um documento para ser encaminhado ao Governo Federal. Eu, pessoalmente, tratarei de contatar cada um dos meus colegas -secretários de Estado- para aderirem ao movimento. Só assim, com atitude, o governo do Paraná acredita que poderá colaborar com o nosso país. Luiz Fernando Delazari, 33, coordenador da Comissão Nacional de Combate ao Jogo de Bingo, é o secretário da Segurança Pública do Estado do Paraná. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cristovam Buarque: A revolução estancada Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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