São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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FERNANDO CANZIAN

Verifique os freios

O BRASIL atingiu um pico de crescimento nos últimos meses e terá, necessariamente, que desacelerar se quiser conter uma preocupante escalada inflacionária. Resta saber qual será o tamanho da freada. E se os ocupantes do assento de trás, os mais pobres, foram contemplados com cintos de segurança definitivos.
Nos dois anos que antecederam a reeleição do presidente Lula, o governo deu prioridade aos brasileiros com menos recursos. Por vários canais: via benefícios sociais como o Bolsa Família, por meio de reajustes generosos no salário mínimo (com forte impacto positivo sobre os aposentados) e ao permitir uma ampliação generalizada do crédito consignado.
Somados, esses e outros incentivos financeiros redundaram ao longo dos últimos anos em mais renda e consumo. Os empresários se animaram e investiram, criando empregos e levando o país a um círculo virtuoso não visto há décadas. Tudo isso desembocou em um crescimento do PIB de 5,8% no primeiro trimestre de 2008. Foi a maior expansão sobre o mesmo trimestre de ano anterior desde 1996.
Além de crescer para cima, o PIB também se expandiu para os lados, muito além do eixo Rio-São Paulo. Qualquer saída para além das fronteiras do "Sul maravilha" é reveladora. Estradas abarrotadas de caminhões, fortes investimentos na construção civil e a chegada de grandes grupos empresariais e do agronegócio marcam hoje o Centro-Oeste e o Nordeste.
Embora esteja altamente concentrada nas mãos de poucos e ao largo de políticas públicas mais estruturadas para dimensioná-la, essa nova onda de progresso é, obviamente, muito promissora. É essa modificação, querendo se tornar estrutural, que está em jogo.
Embora as condições do país sejam outras hoje, a recuperação da renda nacional é muito recente para se dizer com absoluta segurança que estamos livres de um retrocesso.
Só agora o rendimento médio dos ocupados no país retorna aos melhores patamares do pós-lançamento do Plano Real. Só recuperamos o tempo perdido, e o gostinho de ter mais dinheiro no bolso corre o risco de esfriar como um prato de comida em cima da mesa.
Entre as famílias mais pobres, com renda até R$ 1.037, a inflação acumulada em 12 meses é de 8,2%, bem acima dos 5,5% para as que ganham até R$ 13,7 mil. E continua em aceleração, impulsionada principalmente pelos preços dos alimentos e por um consumo em geral aquecido além da conta.
Ao volante, o desafio de Lula é frear. Mas sem jogar os mais pobres contra o vidro da frente, arrebentando sua popularidade.


FERNANDO CANZIAN 0 é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antônio Ermírio de Moraes, que escreve aos domingos nesta coluna.


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