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FERNANDO CANZIAN
Verifique os freios
O BRASIL atingiu um pico de
crescimento nos últimos
meses e terá, necessariamente, que desacelerar se quiser
conter uma preocupante escalada
inflacionária. Resta saber qual será
o tamanho da freada. E se os ocupantes do assento de trás, os mais
pobres, foram contemplados com
cintos de segurança definitivos.
Nos dois anos que antecederam a
reeleição do presidente Lula, o governo deu prioridade aos brasileiros com menos recursos. Por vários canais: via benefícios sociais
como o Bolsa Família, por meio de
reajustes generosos no salário mínimo (com forte impacto positivo
sobre os aposentados) e ao permitir uma ampliação generalizada do
crédito consignado.
Somados, esses e outros incentivos financeiros redundaram ao
longo dos últimos anos em mais
renda e consumo. Os empresários
se animaram e investiram, criando
empregos e levando o país a um círculo virtuoso não visto há décadas.
Tudo isso desembocou em um
crescimento do PIB de 5,8% no primeiro trimestre de 2008. Foi a
maior expansão sobre o mesmo trimestre de ano anterior desde 1996.
Além de crescer para cima, o PIB
também se expandiu para os lados,
muito além do eixo Rio-São Paulo.
Qualquer saída para além das fronteiras do "Sul maravilha" é reveladora. Estradas abarrotadas de caminhões, fortes investimentos na
construção civil e a chegada de
grandes grupos empresariais e do
agronegócio marcam hoje o Centro-Oeste e o Nordeste.
Embora esteja altamente concentrada nas mãos de poucos e ao
largo de políticas públicas mais estruturadas para dimensioná-la, essa nova onda de progresso é, obviamente, muito promissora.
É essa modificação, querendo se
tornar estrutural, que está em jogo.
Embora as condições do país sejam
outras hoje, a recuperação da renda nacional é muito recente para se
dizer com absoluta segurança que
estamos livres de um retrocesso.
Só agora o rendimento médio
dos ocupados no país retorna aos
melhores patamares do pós-lançamento do Plano Real. Só recuperamos o tempo perdido, e o gostinho
de ter mais dinheiro no bolso corre
o risco de esfriar como um prato de
comida em cima da mesa.
Entre as famílias mais pobres,
com renda até R$ 1.037, a inflação
acumulada em 12 meses é de 8,2%,
bem acima dos 5,5% para as que ganham até R$ 13,7 mil. E continua
em aceleração, impulsionada principalmente pelos preços dos alimentos e por um consumo em geral aquecido além da conta.
Ao volante, o desafio de Lula é
frear. Mas sem jogar os mais pobres contra o vidro da frente, arrebentando sua popularidade.
FERNANDO CANZIAN 0 é repórter especial. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antônio Ermírio de Moraes, que escreve aos domingos nesta
coluna.
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