São Paulo, Terça-feira, 15 de Junho de 1999
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Por que só o Serra?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A Rede Globo de televisão deve saber algo que escapa aos mortais comuns para ter iniciado, já faz algum tempo, uma formidável blitz contra o ministro da Saúde, José Serra (PSDB).
O "Jornal Nacional" exibiu, há pouco, uma semana inteira de reportagens sobre o lamentável estado da saúde pública no Brasil, hoje sob a responsabilidade de Serra.
No domingo, o "Fantástico" fez o que jamais havia visto antes: convocou o público para ver no "Jornal Nacional", a partir de ontem, uma nova série sobre as mazelas da saúde (escrevo, dado o horário, antes de ver o primeiro programa da nova série).
Nada contra mostrar aspectos negativos da vida nacional. Tudo a favor, aliás. Mas que fica esquisito singularizar um só aspecto, lá isso fica. Será que nada há a mencionar na educação? Ou na área social como um todo?
Será que os problemas da Polícia Federal não mereceriam igualmente a sua semana ou um dia pelo menos, ainda mais que o "JN" já tratou abundantemente da saúde?
Será que os dramas dos aposentados, sob responsabilidade de um ministro do PFL, aliás indicado pelo presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, não encheriam uma semana ou mais do telejornal mais visto do país?
É sempre possível que tudo não passe de uma decisão de cunho estritamente jornalístico. Mas, conhecidos os antecedentes da Globo, é igualmente possível desconfiar que há algum intuito político nessa escolha do ministério de Serra como o Judas de plantão.
Serra parece ser um dos dois únicos "presidenciáveis" do PSDB para 2002 (o outro, mais forte, aliás, é Mário Covas, o governador paulista).
Suspeito que qualquer coisa negativa que se diga sobre o sistema público de saúde é justificável. Mas vale idêntico raciocínio para 11 de cada 10 outras áreas de atuação do poder público federal. Logo, se o raio X da saúde não for seguido de outros, sobre outras áreas, daria para dizer que é mais telepolítica que telejornalismo.


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