|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Por que só o Serra?
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - A Rede Globo de televisão deve saber algo que escapa aos
mortais comuns para ter iniciado, já
faz algum tempo, uma formidável
blitz contra o ministro da Saúde, José
Serra (PSDB).
O "Jornal Nacional" exibiu, há pouco, uma semana inteira de reportagens sobre o lamentável estado da
saúde pública no Brasil, hoje sob a responsabilidade de Serra.
No domingo, o "Fantástico" fez o
que jamais havia visto antes: convocou o público para ver no "Jornal Nacional", a partir de ontem, uma nova
série sobre as mazelas da saúde (escrevo, dado o horário, antes de ver o primeiro programa da nova série).
Nada contra mostrar aspectos negativos da vida nacional. Tudo a favor,
aliás. Mas que fica esquisito singularizar um só aspecto, lá isso fica. Será
que nada há a mencionar na educação? Ou na área social como um todo?
Será que os problemas da Polícia Federal não mereceriam igualmente a
sua semana ou um dia pelo menos,
ainda mais que o "JN" já tratou abundantemente da saúde?
Será que os dramas dos aposentados,
sob responsabilidade de um ministro
do PFL, aliás indicado pelo presidente
do Senado, Antonio Carlos Magalhães, não encheriam uma semana ou
mais do telejornal mais visto do país?
É sempre possível que tudo não passe
de uma decisão de cunho estritamente
jornalístico. Mas, conhecidos os antecedentes da Globo, é igualmente possível desconfiar que há algum intuito
político nessa escolha do ministério de
Serra como o Judas de plantão.
Serra parece ser um dos dois únicos
"presidenciáveis" do PSDB para 2002
(o outro, mais forte, aliás, é Mário Covas, o governador paulista).
Suspeito que qualquer coisa negativa que se diga sobre o sistema público
de saúde é justificável. Mas vale idêntico raciocínio para 11 de cada 10 outras áreas de atuação do poder público federal. Logo, se o raio X da saúde
não for seguido de outros, sobre outras
áreas, daria para dizer que é mais telepolítica que telejornalismo.
Texto Anterior: Editorial: BNDES DE VOLTA ÀS ORIGENS
Próximo Texto: Brasília - Carlos Eduardo Lins da Silva: O heroísmo de Amelia e Anésia Índice
|