|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O heroísmo de Amelia e Anésia
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Brasília - Qualquer criança de 7 anos
nos EUA conhece a história de Amelia
Earhart, a pioneira da aviação do
país.
Na semana passada, morreu, no Rio,
aos 95 anos, a brasileira Anésia Pinheiro Machado, que recebera da Federação Aeronáutica Internacional o
título de decana das aviadoras de todo o mundo.
Não só a maioria das crianças brasileiras provavelmente nunca ouvira falar de Anésia como a notícia de sua
morte mereceu apenas pequenos registros jornalísticos no país.
Amelia faz parte do vasto panteão
dos heróis dos EUA. Ela viveu numa
sociedade que tem gosto em reconhecer os méritos dos que se destacam da
média das pessoas e lhes confere um
status quase mitológico, quase de semideuses.
O pioneirismo de Amelia e Anésia
era comparável. Mas Amelia desapareceu num vôo sobre o Pacífico, em
1937.
A tragédia pode ter incentivado a
criação do mito. Mas outros norte-americanos, como Charles Lindbergh,
para ficar só entre os aviadores, sobreviveram às aventuras e não deixaram
de receber tratamento de heróis.
O que talvez ajude a explicar o realce de Amelia em contraste com a semi-obscuridade de Anésia é que nos
EUA a sociedade de massas se estabeleceu muito antes que no Brasil e, neste século, só os famosos são heróis.
Pode-se argumentar que Francisco
Alves e Leônidas da Silva se consagraram como heróis na mesma época. É
verdade. Mas eles se destacaram em
atividades que, ao contrário da aviação e de tecnologias em geral, ocupavam espaço importante na vida coletiva nacional.
Não basta a pessoa ter extraordinário valor no que faz para receber homenagens do grande público; sua profissão também precisa ser consagrada.
Celebridade e heroísmo viraram
conceitos intercambiáveis. A fama
transforma uma pessoa em herói, não
os seus feitos. O que, de algum modo,
banaliza as realizações dos verdadeiros heróis. Pelos padrões atuais, os 12
trabalhos de Hércules bem poderiam
figurar ao lado das canções do padre
Marcelo Rossi.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Por que só o Serra? Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Ninho de cobras Índice
|