|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
A confusão de Áquila
DEVERIA ser evidente que,
num mundo finito que abriga recursos finitos e absorve
energia externa, uma espécie animal sem inimigos naturais (a não
ser, eventualmente, ela mesma),
devoradora daqueles recursos, acabará encontrando os seus limites.
O problema não é "se", mas
"quando" isso vai ocorrer. A situação é mais urgente e mais delicada
quando se internaliza o fato que é a
própria necessidade da espécie
que, ao aumentar o seu consumo
de energia fóssil para sobreviver,
produz, simultânea e inexoravelmente, um resíduo, o dióxido de
carbono (CO2), que acelera a deterioração do ambiente.
Este talvez seja o principal responsável pelo efeito estufa, que
tem elevado a temperatura média
do planeta desde a Revolução Industrial e que, aparentemente,
"explica" a mudança de clima a que
estamos assistindo. O problema é
que menos CO2 só com menor produção e menor consumo...
Questões dessa dimensão e complexidade exigem cuidadosos estudos científicos e, suas soluções, decisões políticas. Estas, normalmente, são oportunistas e, frequentemente, levam em pequena
conta o longo prazo. A quem interessa, por exemplo, o voto do cidadão de 2050? Basta ver o "histórico" rocambole conclusivo sobre o
controle do efeito estufa a que chegaram, no dia 8, na cidade de Áquila, os estadistas ali reunidos.
Trata-se, obviamente, de um
problema global e que não poderá
ser resolvido por nenhum país separadamente. Todos, cinicamente,
tentarão reduzir sua contribuição
(ou mesmo escapar dela), mas
mostrar sua clara "vontade política" de maximizá-la.
Há uma assimetria muito grave:
os que no passado produziram e se
beneficiaram do efeito estufa para
acelerar seu desenvolvimento econômico com menor custo (destruindo suas florestas naturais, obtendo energia pelo carvão e combustíveis fósseis, reduzindo a deserto suas áreas férteis etc.) não
têm como, moralmente, impor o
contrário aos retardatários. Teriam de oferecer-lhes compensações pelo aumento dos custos do
seu próprio desenvolvimento ecologicamente mais limpo.
A situação é mais grave porque
existe grande incerteza sobre as
certezas que maníacos ambientalistas apresentam como científicas. Por exemplo, diferentemente
do que se afirma, pesquisas sérias
recentes mostram que 4/5 da vegetação nativa do bioma do Pantanal
está intacta e que a pecuária extensiva tradicional, praticada na região desde 1737, ajudou a construir
o ecossistema com o maior índice
de conservação do país!
Durma-se com um barulho
desses.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Gardênia no cabelo Próximo Texto: Frases
Índice
|